sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Negada Liberdade Condicional a Leonard Peltier! - ANA

Negada Liberdade Condicional a Leonard Peltier!

A gravidade do delito: o seqüestro perpétuo de Leonard Peltier.

Violando a lei, a ética e as normas de direitos humanos, e de acordo com o genocídio dos povos indígenas das Américas, o Conselho de Liberdade dos Estados Unidos novamente negou ao preso político indígena Leonard Peltier seu direito de passar os últimos anos de sua vida em liberdade. A vergonhosa decisão do Conselho foi anunciada pelo procurador federal Drew Wringley no dia 21 de agosto deste ano. Não haverá outra revisão de seu caso até o ano de 2024, quando o companheiro já tiver contando com 79 anos.

O integrante do Movimento Índio Americano (AIM, sua sigla em inglês) foi injustamente condenado a duas sentenças de prisão perpétua pelas mortes de dois agentes do FBI na Reserva Pine Ridge na nação Lakota (estado de Dakota do Sul) em 26 de junho de 1975. Quanto tempo tem durado teu seqüestro? 72 horas? Uma semana? Vários meses? Não. É um seqüestro em progresso de 33 anos e meio!

Os pretextos oferecidos pelo Conselho?

• que a sua saída diminuiria a gravidade de seu delito.

• que a sua saída poderia promover uma falta de respeito à Lei.

• que não demonstrou nenhum remorso.

• que cometeu algumas infrações na prisão, inclusive uma tentativa de fuga.

A AP (agência de notícias Associated Press) repete que nem um papagaio as mentiras do FBI na voz de Wringley: “Leonard Peltier é um assassino a sangue frio que executou dois agentes especiais do FBI, Williams e Coler, e os arrancou para sempre de suas famílias. Leonard Peltier está exatamente aonde devia estar – na prisão federal, onde cumpre duas sentenças de prisão perpétua”.

O Comitê da Defesa de Leonard Peltier enviou a seguinte mensagem no dia 22 de agosto:

“O Comitê da Defesa de Leonard Peltier recebeu do Conselho de Liberdade Condicional dos Estados Unidos o parecer que nega ao preso político índio-americano Leonard Peltier a liberdade condicional. Queremos agradecer os esforços das milhares de pessoas que lhe deram apoio, especialmente nos meses que precederam a recente audiência. Neste momento estamos no processo de finalizar os planos para exercer nosso direito de contestar a decisão, advogar pela intervenção do presidente Obama, obter atenção médica adequada para Leonard e procurar uma transferência para uma prisão federal mais próxima de sua casa. Dentro em breve estaremos publicando diretivas.”

A Anistia Internacional expressou sua decepção diante da decisão do Conselho e clamou pela liberdade imediata de Leonard Peltier.

Leonard Peltier é amplamente reconhecido como um guerreiro espiritual que luta por seu povo. Em seu livro autobiográfico “Minha Vida é Minha Dança ao Sol”, escreve: “Tenho me perguntado diversas vezes o que os caras do FBI conseguiram com tudo isso, exceto o ódio dos nativos americanos e o desrespeito de sua própria gente. E o que devem pensar de si mesmos, estes que participaram em todas as manipulações e fabricações, quando olham para o espelho a cada manhã? Deve dar calafrios, tendo que desviar seus olhos de sua própria imagem no espelho. Têm que viver a mentira que eles próprios criaram para sustentar uma aura de orgulho e auto-respeito. Ou talvez sua própria arrogância construa um muro impenetrável de utopia.” (pág. 119).

O seqüestro é um delito grave e a cada dia, a cada semana, a cada ano se agrava mais. O FBI, os procuradores, os juízes, os carcereiros, os integrantes do Conselho de Liberdade Condicional, todos sabem que Leonard Peltier foi condenado sob provas falsas. Seus companheiros Dino Butler e Bob Robideau, também acusados dos assassinatos, foram exonerados por motivos de autodefesa justificável no ambiente de terror que existia na Reserva Pine Ridge nos anos após a atrevida ocupação de Wounded Knee (Joelho Ferido) pelo AIM em 1973. Um deles reconhece ter disparado as balas mortais.

Os pretextos utilizados pelo Conselho são os mesmos utilizados em muitos casos:

A gravidade do delito? Ao exigir a liberdade dos presos e presas políticas da organização MOVE, disse Ramona África: “Historicamente, especialmente em relação aos presos políticos, os conselhos de liberdade mostraram desprezo pelas suas próprias leis para manter os presos em prisão. Inventaram pretextos como “a gravidade do delito” para negar a eles a liberdade condicional, especialmente aos presos políticos. É absolutamente ilegal. Não tem sentido algum. Quando um juiz dita a sentença... já tomou em conta a gravidade do delito. Por isso ditou certa sentença depois que a culpabilidade se estabelecera. Negar a liberdade a uma pessoa... pela gravidade do delito é totalmente ilegal porque já se considerou esta. Com efeito, o Conselho impõe uma nova sentença”.

Uma falta de respeito com a lei? Leonard tem algo a dizer sobre a guerra do governo dos Estados Unidos contra o AIM: “Eles se esconderam sob o pretexto da “segurança nacional” para fazer seu trabalho sujo. Sua primeira tática: se esqueçam da lei. A lei é para os estúpidos. Viole a lei ao seu próprio gosto para pegar o homem que estão perseguindo; mintam, nos momentos e lugares necessários, para manter o enfoque da averiguação em suas vítimas, e não em seus próprios crimes. Devo reconhecer que tiveram um êxito estrondoso. Em nome da lei, violaram todas as leis promulgadas. E ao implementar sua estratégia deliberada de me enterrar – e a quantos inocentes mais? – numa cela ou numa tumba, converteram a Constituição dos Estados Unidos em uma ficção barata.” (“Minha Vida é Minha Dança ao Sol”, pág. 95-96).

Demonstrar arrependimento? De fato, Leonard já disse que lamenta as mortes dos dois agentes, mas não se arrepende de ter defendido os indígenas sob ataque no rancho Jumping Bull (Touro que Salta), e se recusa a aceitar responsabilidade por algo que não fez, ou seja, ter executado os dois agentes.

Infrações das regras? O Conselho sabe que este homem, respeitado por centenas de milhares de pessoas no mundo, não teve nem uma só infração nos últimos dez anos e que sua trajetória de promover a paz no mundo é tão distinta que recebeu seis nominações para o Prêmio Nobel da Paz.

Tentativa de fuga? Ninguém melhor que o próprio FBI para lembrar as circunstâncias. Leonard conta que o preso indígena Standing Deer foi recrutado para matá-lo na prisão, mas teve a coragem de avisar Leonard, que fugiu por sentir que sua vida estava em perigo. Olhando para trás, Leonard pensa que tudo foi parte de um complô dos agentes federais para assassiná-lo durante a fuga. Agora vive com a dor dos companheiros que ao ajudá-lo morreram por isso: Dallas Thundershield, na fuga, levou um tiro nas costas; Bobby García, misteriosamente enforcado em sua cela, e depois Standing Deer foi executado após cumprir sua sentença (“Minha Vida é Minha Dança ao Sol”, pág. 164-167).

A gravidade do delito. A gravidade de tantos delitos.

Carolina Saldaña

Tradução > Marcelo Yokoi

agência de notícias anarquistas-ana

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Sandro Marcelo Tazinski - 9 anos

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