segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Os espiões anti-povo - Marcelo Salles

OS ESPIÕES ANTI-POVO
Por Marcelo Salles, 08.08.2009

Bom livro esse Ministério do Silêncio, de Lucas Figueiredo (Record). Trata da história do Serviço Secreto brasileiro, desde sua formulação, com Washington Luís, até o governo Lula. Na última página, a 542, o autor assinala: “(…) os movimentos sociais continuam sendo um fantasma para o Serviço“.

Desde o início ligado aos militares, o Serviço, como era chamado pelos funcionários, pautava suas ações pela doutrina anti-comunista e anti-povo. Uma doutrina que foi elaborada pelo governo dos EUA, sobretudo após a II Guerra Mundial. O Serviço teve muitos nomes, sendo o mais tenebroso deles o SNI (Serviço Nacional de Informações), que durante a ditadura civil-militar de 1964 foi responsável pela perseguição, espionagem, tortura e morte de muitos brasileiros.

Ministério do Silêncio mostra, com farta documentação, a presença do governo estadunidense na implementação do Serviço Secreto brasileiro. Os militares, na época, investiam na estruturação da Escola Superior de Guerra (ESG). “Durante mais de dez anos, uma equipe militar dos EUA ficou baseada no RIo para ajudar na fixação da escola. E por duas décadas a ESG manteve um oficial americano dentro de sua sede, na Fortaleza de São João, na Praia Vermelha” (página 56). O alto comando da ESG, Golbery do Couto e Silva à frente, foi quem planejou o SNI.

Vernon Walters, coronel da CIA, esteve por aqui. Primeiro, operacionalizando o golpe. Depois, ”ajudando” o SNI. Por fim, dizendo o que ia ao ar na Globo.
Mais abaixo o autor indica o tamanho do problema. A doutrina capitalista estadunidense influenciava, e muito, a formação dos militares brasileiros. “Em seus manuais [da ESG], a população brasileira era descrita como potencial inimigo da pátria”.

A conquista da instituição Forças Armadas foi a condição para a conquista do Estado brasileiro. E para manter a dominação, 3 ministérios eram essenciais: Defesa (que detém a força bruta), Educação (formação) e Comunicações (informação). Os outros vinham depois, sem prejuízo da exploração das riquezas nacionais.
Outro trecho importante do livro – e que sublinha o poder da mídia – é um informe de João Batista Figueiredo, que foi presidente e chefe do SNI. O homem fez uma precisa análise de mídia, comentando a inclinação ideológica de uma reportagem considerando até os gestos do Cid Moreira.

Conhecer a história do Brasil pela via do Serviço é muito interessante, também, porque revela o poder que os militares sempre tiveram no Brasil. Todos os presidentes, sem exceção, guardavam especial preocupação. Agradar aos militares poderia decidir a sorte de um governo.

Entre os exemplos citados em Ministério do Silêncio, estão o grampo do BNDES e o chamado caso Waldomiro Diniz, ambos com potencial para derrubar os presidentes FHC e Lula, respectivamente. Outro, clássico, foi a bomba no Riocentro.

Difícil ir contra um órgão que pode fazer gravações escondidas, explodir bombas e atuar contra o próprio povo sem nenhuma forma de controle externo. Por essas e outras, deduz-se da leitura, o governo Lula não teria aberto os arquivos da ditadura, como exigem os defensores dos direitos humanos. E olha que o Lula era o inimigo número 1 do Serviço.

Fonte: http://www.fazendomedia.com

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