Sobre mídia e políticaPor Marcelo Salles, 13.05.2010
1) Sinais das ruas: em La Paz, 2009, um muro próximo à Plaza España exclama: “Acorda! É hora de sonhar”. Em Brasília, 2010, um ônibus da linha 16, que liga a Asa Norte à Esplanada dos Ministérios, carrega num banco a inscrição, feita à caneta: “A mídia é uma máfia”.
2) As corporações de mídia divulgaram, com ares de espanto, que policiais deixaram um bandido fugir, no Rio de Janeiro. As imagens foram repetidas ad infinitum, de modo a culpar os policiais por deixar fugir o pé de chinelo. Queriam o quê? Que os caras atirassem para matar? Que sentassem o dedo com a rua cheia de gente?
3) Aconteceu numa cidade latino-americana. João nasceu e foi criado num condomínio de gente rica, desses que tem tudo: escola, igreja, mercado, clube, shopping, cinema. João não conheceu a desigualdade social e não conviveu com a diversidade cultural que marca sua cidade. Na sua opinião os pobres são um estorvo. As favelas, antros de marginais. Um dia, João virou prefeito dessa cidade e passou a administrá-la de acordo com suas convicções. Teve o apoio das corporações de mídia e dos empreiteiros. Aqueles convencem a população de que os pobres não são humanos, enquanto estes lucram com choques de ordem e despejos violentos. O sonho de João é transformar a cidade toda num grande condomínio, onde todos os seres considerados humanos são felizes.
4) Eleições: erra, e erra feio, quem considera Serra e Dilma a mesma coisa. Serra representa o projeto demotucano, todo o receituário neoliberal, Estado mínimo, alinhamento automático da política externa aos EUA, centralização das verbas publicitárias nas corporações de mídia, violência e criminalização contra pobres e movimentos sociais. Dilma representa o Estado indutor da economia, política externa multilateral, descentralização das verbas publicitárias e negociação com os movimentos sociais. Entre outras diferenças, como por exemplo o crescimento econômico (na era Lula o PIB teve média duas vezes maior que na era FHC). O governo Lula pode não ter avançado tanto quanto nós gostaríamos, mas daí a dizer que Serra e Dilma dão no mesmo é fazer o jogo da direita. É nivelar por baixo. A esquerda pode e deve apresentar uma plataforma programática para essas eleições. Alguns itens que considero fundamentais: Democratização dos Meios de Comunicação; Reforma Agrária; Imposto sobre Grandes Fortunas; Lei de Remessa de Lucros; Erradicação do Analfabetismo; Políticas de combate ao racismo, ao preconceito de gênero e à homofobia. Levantar essas bandeiras é a melhor forma de elevar o nível do debate e conscientizar a população.
5) Vocação de berço: Adriane Galisteu, num programa de televisão, afirmou: “Quando eu era criança meu sonho era ser caixa de supermercado. É porque eu pensava que aquele dinheiro era todo dela”.
6) Alguém já disse que o Brasil não vai dar certo enquanto pagar mil reais para um professor e 25 mil para um juiz. Vou complementar: e 100 mil para um leitor de teleprompter.
7) Aviso aos anti-flamenguistas: não comemorem antes do tempo.
Fonte: http://www.fazendomedia.com
quinta-feira, 13 de maio de 2010
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