domingo, 16 de maio de 2010

Virada Cultural deixa rap de lado - Por: Jéssica Santos de Souza, Rede Brasil Atual

Virada Cultural deixa rap de lado

Para o escritor e rapper Ferréz, organização do evento mostra preconceito contra os gêneros musicais vindos das regiões periféricas - e pobres - das cidades. Ele critica ainda o despreparo da polícia para lidar com o público
Por: Jéssica Santos de Souza, Rede Brasil Atual


São Paulo - Neste fim de semana acontece mais uma edição da Virada Cultural em São Paulo, evento promovido desde 2005 que reúne variadas atrações culturais por 24 horas, principalmente na região central da capital. Mas quem gosta de rap vai acabar se decepcionando.

Neste ano, inicialmente, nenhuma atração do gênero musical estava marcada para o Centro, onde estão os palcos principais. As poucas apresentações programadas haviam sido deslocadas para os Centros de Educação Unificados (CEUs), situados em bairros periféricos. Apenas poucos dias antes da virada, houve mudanças na programação que levaram uma apresentação à região.

Para o escritor e rapper Ferréz, a exclusão das manifestações de Hip Hop vem dos dois lados já que o movimento também tem deixado a Virada Cultural de lado. "A atual gestão já cometeu gafes de apagar desenhos dos Gêmeos, já baniu apresentações de rap, portanto a nossa forma de mostrar a ignorância deles é não participando em nada, nem na parte literária e nem shows", critica, em entrevista à Rede Brasil Atual.
O coordenador de programação da Virada Cultural, José Mauro Gnaspini, ponderou durante a coletiva de lançamento da programação que há, nesta edição, atividades relacionadas ao grafite, à dança de rua e a DJs, que têm relação com o Hip Hop. Apenas os shows de rap é que enfrentam resistência, segundo o coordenador.

"O Hip Hop é uma expressão muito importante da cultura paulistana. A gente sabe disso e apanhamos bastante por tentar fazer”. Gnaspini referiu-se ao show do Racionais MCs em 2007, na Praça da Sé, que acabou em confusão. O incidente prejudicou a imagem do gênero perante os organizadores.

Em 2008, um palco exclusivo chegou a ser dedicado a manifestações culturais de Hip Hop em um espaço cercado, próximo ao Terminal Dom Pedro II. Gnaspini disse, em entrevista para o Último Segundo, que a experiência não foi positiva. "A preocupação era tão grande que havia um pente fino da polícia. Lá era o único lugar da festa em que havia revista corporal para quem entrava. Apesar da melhor das intenções, acabamos segregando de novo."

Para Ferréz, o tratamento demonstra apenas o despreparo da polícia e até preconceito contra o movimento. Isso porque apresentações de outros gêneros também terminam em confusão, mas apenas o rap é taxado como problemático. "Não acredito que a policia esteja preparada para nada, falta mais escola, treinamento", critica. "Desde a ditadura, a policia está aí só para reprimir, não tem nada de comunitária, foi criada para reprimir e até hoje pouca coisa mudou", desabafa.

Rap na Virada
Os grupos Instituto e Z'africa Brasil estarão no palco da praça Julio Prestes, no domingo (16), às 6h da manhã. Thaíde e Cabal se apresentam em uma pista black e soul montada próximo à rua Santa Efigênia.

Nos CEUs há as apresentações de Emicida (Vila Curuçá, domingo às 18h), Rappin Hood (Lajeado, domingo às 17h), Thaíde (Parque São Carlos, sábado às 17h) e Nelson Triunfo (Sapopemba, domingo às 16h).

No sábado (15) à noite, a opção é o Espaço +Soma, com o show de Akira Presidente e Kamau. Também se apresentarão A Filial, Rincón Sapiência, Stefanie e Akin no que a casa chama de "Viradão do Rap". Os shows serão gratuitos.

Serviço:
Virada Cultural 2010
Das 18h de sábado (15) ás 18 de domingo (16)
Programação Completa no site oficial

"Viradão do Rap"
Local: Espaço +Soma (Espaço Cultural/Loja/Café)
Rua Fidalga 98 - Vila Madalena - São Paulo - SP
Informações - 11 3031-7995
Fonte: http://www.novae.inf.br

3 comentários:

Laerçon blues man disse...

Na verdade o problema não é bem o Rap em si, o que faz o problema é o pessoal que se diz Fã do estilo mas não assimila toda a sua essência politica. Isso acontece tambem com o bom e velho rock and roll que sempre foi mais "preconceituado" do que o Rap.

Herbert Rodrigues disse...

A Virada Cultural foi criada no primeiro ano da gestão do prefeito José Serra (em 2005) e, desde então, tornou-se um dos maiores eventos de rua da cidade de São Paulo. Apesar da assinatura tucana, o evento é quase uma unanimidade até mesmo entre os que nunca participaram dela.
Como morador do centro de S. Paulo, acho o evento muito legal. Gosto do clima que se forma nas ruas (apesar do alto consumo de drogas e da sujeira), de ver as pessoas caminhando pela cidade de madrugada, ocupando os espaços e assistindo aos shows. Até aí, tudo bem. No entanto, considero a Virada Cultural um dos grandes equívocos da política cultural dessa cidade. Se gasta muita grana para um retorno muito pequeno. Quer dizer, o retorno existe, mas certamente não é cultural. Por outro lado, a cidade, sobretudo o centro, fica completamente abandonada ao longo do ano. Não existem eventos de rua como apresentação de teatro, circo, dança, musicais e outras expressões artísticas. O carnaval de rua é um fiasco. As praças estão abandonadas. O valor gasto com esse evento é quase a metade do que foi utilizado na reforma da Biblioteca Mário de Andrade, iniciada em 2007 e ainda não concluída. A placa de reforma da praça Roosevelt, cujo inicio seria em 2006, já apodreceu e caiu. O Teatro Municipal está fechado. Os cinemas de rua praticamente não existem mais. A demolição do Minhocão e a criação de uma área de lazer no lugar é uma mentira. (Estou pra ver um prefeito que tenha coragem de pagar o preço político de fazer qualquer reforma urbanística que não privilegie o automóvel nessa cidade.) Além de não ter eventos de rua, nem os shows do Ibirapuera, que eram patrocinados pela iniciativa privada, existem mais!
A Virada Cultura desse ano foi inflacionada com um número assustador de atrações de gostos duvidosíssimos. Estranhamente, muitas coisas ficaram de fora esse ano, assim como em outras edições. Por que não tem espaço para o rap? Por que nunca houve um espaço para música sertaneja ou música de raiz? Que samba é esse que colocaram na praça da República? Quais foram as grandes atrações do rock? Quais foram os grandes cantores populares? O que tivemos foi um amontoado de ex-bandas em atividade. Que diversidade é essa? Na minha opinião, esse evento é uma farsa para enganar a classe média mal informada que só passa pelo centro de carro quando não tem caminho alternativo, assustada e com os vidros fechados – nem sequer para no sinal vermelho. Na boa, o que há de cultural nessa virada? Trata-se de um belo verniz cultural, uma peça de propaganda política bem ao estilo de Goebbels, que dizia uma mentira mil vezes até transformá-la em verdade.
S. Paulo precisa de uma política urbanística e cultural séria para o centro que privilegie, sobretudo, a moradia, a segurança, a limpeza, a conservação e o meio ambiente na principal área da cidade. Até hoje não se resolveu o problema dos ambulantes, o número de moradores de rua só cresce, a cracolândia vive a sua própria sorte, moradores sofrem com a desvalorização dos imóveis, com a sujeira e a sensação de insegurança, até artistas são baleados no interior dos teatros.
No lugar de um mega evento anual, por que não eventos menores e mensais criando assim um hábito de frequentar o centro e mantendo a economia aquecida ao longo do ano? No lugar de escolhas artísticas duvidosas, por que não uma consulta pública sobre os interesses culturais da população? No lugar de gastar milhões de reais num único dia, por que não um investimento sério a longo prazo que leve em consideração uma melhor cidade para se viver?

Provos Brasil disse...

Tenho um monte de restrições sobre a virada cultural, a principal delas é que só funciona o Metrô, os ônibus não! Porque será? Será que isso é algum tipo de preconceito?

A grande parte da população não participa da virada, estão do outro lado! Do lado do subúrbio, aonde não se tem Metrô, já que ele é a metade do caminho.

Aí para não ficar muito feio levaram alguns show para os CEU´s, e nessa entra o Rap. O Rap é discriminado sim! Acho que aquele lance que aconteceu na apresentação do Racionais tem a ver com isso. Quem sabe no próximo ano eles convidem o Patrick Horla.

Quanto aos shows achei a programação bem diversificada, alguns sempre reclamam, um amigo meu foi ver o Living Colours achou o máximo, e me disse que tinha muita gente apreciando aos shows!

Agora quando a Cidade de São Paulo ela bem como o Estado estão abandonados a muitos anos, deste o tempo em que Quércia mandava e seus filhotes FHC, Serra, Covas, Montoro, Freury e Cia aprendiam, agora alguns papeis se inverteram, mas tudo continua da mesma forma.

Provos Brasil