terça-feira, 18 de maio de 2010

"Um meio de acesso aos grupos e movidas anarcopunks e anarquistas em geral" - ANA

"Um meio de acesso aos grupos e movidas anarcopunks e anarquistas em geral"


[Em entrevista à ANA, o portal Anarcopunk.org comenta como surgiu esta iniciativa, dificuldades e projetos futuros; e fala ainda da importância da internet como ferramenta no desenvolvimento da luta anarquista. Mas “não dá pra restringir a imaginação libertária a um mundo virtual”, afirmam ele/as. Confira a conversa a seguir.]

Agência de Notícias Anarquistas > Vocês podem nos contar o que é o portal Anarcopunk.org? Como que ele surge...

Anarcopunk.org < O portal Anarcopunk.org já teve várias caras e apoiadore/as no decorrer dos anos. Começa diretamente ligado à existência da ORGAP (Organização Anarco Punk), que surgiu em São Paulo logo após um Encontro Anarco Punk que aconteceu em setembro de 2000 e que, embora inicialmente com outros propósitos, foi tomando pouco a pouco a forma de um núcleo de contra-informação e contra-cultura com foco não apenas no website, mas também na realização de atividades e eventos diversos. O site em si começa, assim, no início de 2002.

Com o fim da ORGAP, mais ou menos em 2005, o site continua existindo, em alguns vários momentos com pouca atualização devido a problemas que passam pela falta de acesso a net e de tempo para nos dedicarmos a isso. Mas até então o anarcopunk.org tinha uma cara muito mais voltada para a difusão de notícias e artigos.

No início do ano passado (2009) o site passou por uma reformulação, com uma proposta de separá-lo em diversos canais com temas diversos que, em sua totalidade, pudessem divulgar um pouco do que o anarcopunk por aqui faz, pensa, cria e organiza em sua diversidade. A idéia que pouco a pouco continua sendo construída, é a de oferecer também um espaço onde os coletivos de cada lugar possam também gerir seus próprios blogs e difundir suas propostas e atividades. Para que o site continue crescendo é importante que todo/as contribuam com informações para serem postadas, propostas de novos blogs, entre outros. Nos últimos tempos temos contado também com o apoio direto de membro/as do coletivo Mentes Plurais (Porto Alegre/RS), não só com o blog que ele/as tem mantido do coletivo, mas também com apoio técnico e na criação de novos blogs.

ANA > Como coletam as informações postadas no site? Há algum critério?

Anarcopunk.org < A nova versão do portal está dividida em diversos canais com sistema de blog de código livre. Temos um canal unicamente para notícias, um para produções audiovisuais, um sobre anti-fascismo, uma biblioteca virtual, e assim por diante. Alguns deles são alimentados por nós, e outros por coletivos anarcopunks que se comprometeram a manter canais com informações sobre as movimentações em suas localidades (como é o caso do coletivo Mentes Plurais e do Coletivo Feminista Ação Anti-Sexista, de Porto Alegre/RS, a Organização Anarcopunk de Lima/Peru, e o MAP/SP).

Mas em todos os canais mantemos a proposta da difusão de informações, produções, idéias, materiais libertários e divulgação das movimentações que estão acontecendo mundo afora, criando também um meio de acesso aos grupos e movidas anarcopunks e anarquistas em geral. Dentro dessa proposta, os critérios para postagem das informações no site (e que valem também para os grupos que têm canais dentro do portal) são ligados diretamente a alguns princípios básicos que temos, como o combate ao racismo, ao fascismo, a homofobia, o autoritarismo, o machismo e o capitalismo e a busca por formas de organização e práticas não-hierárquicas e horizontais. Em geral muitas das informações postadas no site são repassadas via email por outro/as companheiro/as (informes, divulgação de eventos, notícias, artigos, links, livros e zines, entre outros), sendo em alguns casos também traduzidas para o português.

ANA > E quem costuma freqüentá-lo?

Anarcopunk.org < Temos recebido por email contatos de indivíduos e grupos anarcopunks/anarquistas/libertários com propostas de conspirações conjuntas ou buscando troca de informações, e ainda alguns contatos de pessoas sem envolvimento direto com as movimentações anarquistas, porém com dúvidas ou inquietações diversas ou com propostas de pesquisas, trabalhos e outros para os grupos. Com base nesses contatos via email dá pra perceber que, para além da comunidade anarcopunk e libertária, o site tem sido acessado também por pessoas que buscam mais informações a respeito e que, de alguma forma e por motivos diversos, querem se aproximar mais das idéias e mesmo da movimentação como um todo.

ANA > E vocês já foram virtualmente atacados por grupos fachas, ou de outras espécies?

Anarcopunk.org < O site já chegou a ficar fora do ar por alguma brincadeira maldosa, mas não temos como saber de onde isso partiu. Porém pensando na quantidade de anos que ele já existe nunca tivemos grandes problemas em relação a isso!

ANA > Que dificuldades encontram para manter o portal?

Anarcopunk.org < As maiores dificuldades estão ligadas à falta de tempo e disponibilidade para manter o portal atualizado - eu por exemplo só tenho acesso a internet via lan house - e também à questões financeiras, já que a hospedagem e o domínio são pagos e nem sempre temos dinheiro pra pagar. Aliás, pra quem quiser e puder ajudar com informes, artigos e conteúdo para o portal (notícias, vídeos, cartazes de eventos, livros em pdf, etc.), ou mesmo com ajuda em dinheiro pra manter a hospedagem, é só escrever para info@anarcopunk.org – contribuições são muito bem vindas!

ANA > E quais os projetos futuros?

Anarcopunk.org < Um dos projetos que temos há um bom tempo e que só agora estamos começando a concretizar é o de digitalizar os materiais, boletins e zines que temos em arquivo para disponibilizá-los no site, com a idéia de difundir as publicações anarcopunks e libertárias mais antigas e nem tão antigas assim que já circularam por aí. Os materiais que temos são de épocas, lugares e temáticas diversas e pensamos ser interessante dar maior acesso a eles. O mesmo está sendo feito com os materiais anti-fascistas e matérias de jornal de denúncia, com uma idéia de criar um dossiê antifascista no blog Jornada Antifa. Fora isso a idéia é continuar ampliando o portal, com novos blogs mantidos por coletivos anarcopunks. Também temos conversado sobre a possibilidade de criar uma rádio virtual e outras idéias mais…

ANA > Mudando um pouco o foco. Acreditam que a internet é uma “aliada” dos anarquistas?

Anarcopunk.org < Há tempos atrás muitas pessoas eram radicalmente contra o uso da internet, até com argumentos consistentes pra isso. Com o passar dos anos a coisa foi mudando e muitas dessas pessoas passaram a utilizá-la com diversos objetivos dentro das movimentações anarquistas e punks, mesmo que com algumas ressalvas. Nesse meio tempo já rolaram diversas discussões e debates sobre o uso que fazemos dela enquanto anarquistas.

Continuamos pensando na internet como uma ferramenta: assim como diversas outras ferramentas tecnológicas, ela pode ter usos e finalidades diversas dependendo de quem a está usando. Por isso, acaba sendo ao mesmo tempo uma “aliada” e, por outro lado, algo que precisamos pensar e usar com cuidado e inteligência.

A internet é um meio relativamente barato e rápido de comunicação e difusão de informação, possibilita compartilhar arquivos, livros, músicas, filmes e outras tantas coisas, divulgar atos e atividades, entrar em contato com anarquistas e punks do mundo todo (sem pagar pelas postagens exorbitantes dos correios), enfim... são coisas que acabam facilitando muito quando o objetivo é o contato à distância, a divulgação, a troca de informações e idéias, etc. Por todos esses pontos, consideramos a internet como uma ferramenta importante hoje em dia em nossas atividades.

Por outro lado, ela tem sido cada vez mais explorada como ferramenta de vigilância policial (e comercial também), seja via sites de relacionamento como o orkut, ou mesmo no que escrevemos por emails, etc. etc. etc. Há toda uma legislação no mundo “real” sendo criada pra dar conta do mundo “virtual”. Em tempos em que o protesto social e as mobilizações políticas que vão contra o Estado e o capital têm sido mundialmente reprimidos, controlados e criminalizados, é importante também que encaremos a internet com seriedade. Há ainda todo um questionamento que se pode fazer em relação à monopolização e utilização comercial da internet via corporações gigantes como a Google, por exemplo.

É também importante levar em conta que, apesar dos inúmeros projetos de “inclusão” digital, das centenas de lan houses que existem em todos os lugares, e do aumento do número de pessoas que têm acesso à internet de alguma forma, a idéia de que estamos atingindo milhares ou mesmo centenas de pessoas pode acabar alimentando uma ilusão quando pensamos na divulgação de nossas atividades, eventos ou materiais como e-zines.

Parece maravilhoso pensar em divulgar um zine ou evento pra tanta gente sem gastar nenhum centavo de cópia em xerox. Mas será que, para além dos msn´s, orkuts e sites de relacionamento, as pessoas estão realmente acessando esses conteúdos?

Por um lado, muitas vezes uma boa divulgação via internet não fez com que tivéssemos um grande número de pessoas em atividades que organizamos, por exemplo. Mas, por outro, quando disponibilizamos na internet o curta “O Punk Morreu?”, foi muito satisfatório ver que, em pouco tempo, mais de 2 mil pessoas já tinham acessado o filme – coisa que não teria acontecido tão rápido em exibições de eventos.

Enfim, existem vários questionamentos, mas acreditamos na internet como uma ferramenta importante. Mas apenas UMA entre outras ferramentas, que não podem ser esquecidas ou deixadas de lado – desde o contato e discussão cara-a-cara até o material divulgado em papel. Não dá pra restringir a imaginação libertária a um mundo virtual.

ANA > Tenho a sensação que no mundo virtual brasileiro há milhares de anarquistas, que usam bastante esta ferramenta. Contudo, infelizmente, também percebo que a maioria não tem nenhuma atuação no mundo real, no dia-a-dia... Já perceberam isto? (risos)

Anarcopunk.org < (risos) Já percebemos sim. Depois da moda dos sites de relacionamento como orkut, myspace, etc. etc. etc., isso ficou ainda mais visível. As comunidades relacionadas a anarcopunk no orkut, por exemplo, tem milhares de associados, mas ao mesmo tempo o número real de pessoas realmente envolvidas nas movimentações anarcopunks pelo Brasil de forma concreta é muito menor. A relação entre anarquistas do mundo virtual brasileiro e anarquistas com atuação no mundo real é a mesma também. De fato há no “mundo virtual brasileiro” uma quantidade muito maior de anarquistas do que o número de pessoas que realmente têm alguma atuação real, então em muitos casos a internet deixa de ser uma ferramenta que é utilizada em conjunto com outras práticas e com um vínculo com o mundo e as lutas reais para se tornar um fim em si mesma. Creio que talvez uma boa resposta pra isso seja que, no fundo, muitas dessas pessoas encarem o anarquismo como um estilo de vida, algo a se estudar e conversar, deixando de lado o âmbito da luta social e da atuação política concreta – como se pudéssemos separar a atuação anarquista que se dá no dia-a-dia (uma coerência em nível pessoal com as idéias libertárias) da atuação anarquista que se dá pela via das lutas sociais. Acredito que as duas coisas têm de caminhar juntas!

ANA > Acham que o anarquismo brasileiro, sua diversidade, está bem representado na internet?

Anarcopunk.org < Acho que existem sites daqui com bom conteúdo sobre anarquismo e mesmo a quantidade de blogs e sites de coletivos anarquistas, espaços e projetos libertários que existem no Brasil tem crescido nos últimos tempos. A divulgação de eventos e atividades rola bastante via internet - muitas vezes acaba sendo unicamente divulgada por este meio; as listas de discussão e fóruns virtuais diversos também contribuem bastante nesta questão da divulgação. Dá pra perceber que a ferramenta da internet tem sido bastante usada pelos anarquistas em geral pra divulgação de idéias, propostas e atividades e difusão de conteúdo para download. Ao mesmo tempo acho que são poucos os sites que de fato são atualizados com alguma freqüência, falta mais divulgação da existência de muitos deles, e também entra muito o que você comentou na pergunta anterior sobre a enorme quantidade de anarquistas que existem unicamente de forma virtual.

ANA > Algum toque para finalizar? Valeu!

Anarcopunk.org < Bom, valeu pela entrevista e pelo espaço! Pra contatos, trocas de idéia e conspirações conjuntas é só escrever pro info@anarcopunk.org ou pra Caixa Postal 665 CEP 01032-970 SP/SP - Brasil. Abraços y resistência anarcopunk!

www.anarcopunk.org
• Notícias – anarcopunk.org/noticias
• Agenda – anarcopunk.org/eventos
• Filmes – anarcopunk.org/anarcofilmes
• Anti-Fascismo – anarcopunk.org/antifa
• Coletivo Anarcopunk Mentes Plurais (Porto Alegre/RS) – anarcopunk.org/mentesplurais
• Coletivo Feminista Ação Anti-Sexista (Porto Alegre/RS) – anarcopunk.org/acaoantisexista
• Organização Anarco Punk (Lima/Peru) – anarcopunk.org/orgaplima
• Movimento Anarco Punk de São Paulo – anarcopunk.org/mapsp
• Ação Direta em Quadrinhos (São Paulo/SP) – anarcopunk.org/acaodireta
• Editora e Distribuidora Anarcopunk Imprensa Marginal (São Paulo/SP) – anarcopunk.org/imprensamarginal
Ferramentas em teste ainda:
• Twitter: @anarcopunk
• http://twitradio.com.br/anarcopunk
• http://www.formspring.me/sitioanarcopunk (serviço de perguntas para usuários / curiosos em geral -- http://pt.wikipedia.org/wiki/Formspring )

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no vaso, vê o mundo
pela janela

Carlos Seabra

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