sexta-feira, 30 de abril de 2010

Estado Assassino: Um jornalista no exílio - Por Jonathan Cook


Um jornalista no exílio - Por Jonathan Cook

Repórter e sua informante estão sendo acusados de “espionagem” por revelarem documentos que mostram que oficiais do Exército do país aprovaram ações ilegais de seus comandados.
Jonathan Cook de Nazareth (Israel)

Um jornalista israelense que foi para o exílio depois de escrever uma série de reportagens revelando que ações ilegais cometidas pelo Exército de Israel foram aprovadas por oficiais militares pode enfrentar, caso seja capturado, uma longa sentença de prisão por espionagem.

Isso foi o que os serviços de segurança israelenses alertaram no dia 10: eles iriam fazer de tudo para encontrá-lo. O Shin Bet, a polícia secreta de Israel, afirmou ter impetrado um mandado de prisão contra Uri Blau, repórter do jornal progressista Haaretz que se esconde em Londres, na Inglaterra, como um “criminoso foragido”.

De acordo com o jornal direitista Maariv, duas opções estão sendo consideradas: a extradição, a ser requerida às autoridades britânicas ou, se isso falhar, uma operação secreta da Mossad, a agência de espionagem de Israel, para “contrabandeá-lo” de volta.

No dia 12, foi revelado que a informante de Blau, Anat Kamm, 23 – uma ex-recruta que copiou centenas de documentos confidenciais durante seu período de serviço militar –, confessou, logo depois de sua prisão, em dezembro, ter feito isso para denunciar “crimes de guerra”.

O Shin Bet alega que Blau está em posse desses documentos, incluindo alguns relacionados à Operação Chumbo Fundido, como se denominou o ataque de Israel à Gaza entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Acredita-se amplamente que, nessa ação, o exército violou leis de guerra.

Execuções de líderes
Outros documentos, que serviram de base de uma investigação do Haaretz publicada em 2008, revelaram um encontro entre o comandante do Exército, Gabi Ashkenazi, e o Shin Bet, no qual decidiram ignorar uma determinação da Corte Suprema e continuarem a levar a cabo execuções de líderes palestinos nos territórios ocupados.

Yuval Diskin, comandante do Shin Bet, exige que Blau revele integralmente seu arquivo de documentos e passe por um detector de mentiras para identificar suas fontes. O Haaretz e seus advogados recomendaram que ele continue escondido para proteger seus informantes.

O jornal também revelou ter concordado, um pouco antes dos ataques à Gaza – e em um gesto altamente incomum – em adiar o fechamento de uma de suas edições depois que o Exército exigiu, no último minuto, que uma das matérias de Blau não fosse publicada. Seu relato já tinha passado pelo censor militar que verifica se determinadas matérias não põem em risco a segurança nacional.

Advogados e grupos de direitos humanos temem que o Exército e o Shin Bet estejam tentando silenciar os jornalistas investigativos e enviar um alerta a outros repórteres para que estes não sigam o mesmo caminho de Blau.

“Temos um perigoso precedente aqui, segundo o qual passar algum material para um jornal israelense é visto pela promotoria como equivalente a manter contato com um agente estrangeiro”, disse Eitan Lehman, o advogado de Anat Kamm. “A própria noção em si de apresentar informações para a opinião pública israelense é tomada como uma intenção de causar danos à segurança nacional”.

Prisão domiciliar
A determinação do Shin Bet de prender Uri Blau foi revelada depois que uma liminar que proibia a publicação, pela imprensa israelense, de informações sobre o caso Kamm foi suspensa pela justiça israelense, no dia 9. Ela está em prisão domiciliar desde dezembro. Kamm admitiu ter copiado centenas de documentos confidenciais enquanto servia no escritório do Brigadeiro-General Yair Naveh, que estava no comando de operações na Cisjordânia, entre 2005 e 2007.

Em 14 de abril, a Suprema Corte reforçou as restrições de sua detenção. A juíza, Ayala Procaccia, afirmou: “Os atos atribuídos à ré apontam para uma percepção interna profundamente distorcida das responsabilidades de um soldado em relação ao sistema militar a que ele ou ela é requerida a servir, e uma séria distorção da responsabilidade básica que um cidadão deve ao Estado ao qual ele ou ela pertence”. A Corte decidiu que Kamm não pode deixar seu apartamento e deve ser permanentemente “vigiada” por um parente próximo.

Em um acordo com o Shin Bet no ano passado, Uri Blau e o Haaretz entregaram 50 documentos e concordaram com a destruição do computador do jornalista. Ambos os lados acusam o outro de violar o trato: o Shin Bet diz que Blau mantém, secretamente, outros documentos copiados por Kamm que poderiam ser úteis para os inimigos de Israel; enquanto Blau afirma que o Shin Bet usou os documentos devolvidos para encontrar Kamm, depois de dar garantias de que não o faria.

O Haarettz diz que Blau teme que eles tentarão identificar seus outros informantes caso ele entregue seu arquivo. Ele teve conhecimento de sua situação em dezembro, enquanto estava fora do país, de férias. Disse que um amigo o telefonou para alertá-lo que o Shin Bet tinha invadido e saqueado sua casa. Mais tarde, ele soube que a organização estava monitorando seu telefone, email e computador havia muitos meses.

“Espionagem”
O Shin Bet afirmou, recentemente, que Blau estava escondido em Londres apesar da ameaça de que isso o tornaria um alvo fácil para agências de inteligência de outros países. Amir Mizroch, um analista do jornal direitista Jerusalem Post, notou que tal postura era o equivalente a “dizer para os agentes de inteligência sírios, libaneses, palestinos, do Hizbullah e iranianos em Londres: 'Sejam nossos convidados para capturar Uri Blau'”. Para ele, o verdadeiro objetivo poderia ser encurralá-lo até o ponto de ser vir obrigado a buscar refúgio na embaixada israelense.

Anat Kamm é acusada de espionagem com a intenção de causar danos à segurança nacional. Por isso, ela pode ficar 25 anos na prisão. No dia 12, outro de seus advogados, Avigdor Feldman, fez um apelo a Blau para que ele retornasse a Israel e devolvesse os documentos, como forma de ajudar a “atenuar o caso”.

“A questão real é se essa abordagem excepcionalmente dura está desenhada apenas para recuperar os documentos ou para ir atrás de Blau e suas fontes”, disse Jeff Halper, um analista israelense. “Pode ser que Kamm seja o pretexto que os serviços de segurança precisam para identificar o círculo de informantes de Blau”.

Uri Blau já publicou várias matérias, aparentemente baseadas nos documentos de Kamm, mostrando que o comando do Exército aprovou políticas que violou não apenas leis internacionais como também determinações das cortes israelenses.

“Missão de ataque”
Suas reportagens incluíram revelações de que oficiais aprovaram assassinatos extra-judiciais nos territórios ocupados, ordem destinada, quase que certamente, a matar transeuntes palestinos; que, em violação de um compromisso com a Suprema Corte, o Exército deu ordens para executar palestinos procurados mesmo que eles pudessem ser capturados com segurança; e que o ministro da Defesa compilou um relatório secreto mostrando que a grande maioria de assentamentos na Cisjordânia era ilegal mesmo sob a lei israelense.

Apesar do fato de que as matérias originais datarem de 2008, o Exército emitiu um comunicado recentemente afirmando que os relatos de Blau eram “ultrajantes e enganadores”. Nenhum oficial foi processado pelas atividades ilegais do Exército.

B’Tselem, um grupo israelense de direitos humanos, afirmou que realizou um estudo que mostra que “em muitos casos, soldados estão se dirigindo aos territórios ocupados como se eles estivessem em uma missão de ataque, em vez de uma operação de captura”. A entidade afirmou, ainda, que as autoridades “se apressaram a investigar o vazamento [dos documentos] e escolheram ignorar as graves suspeitas de flagrantes irregularidades evidenciadas nesses documentos”. (Palestine Chronicle)

Tradução: Igor Ojeda
Fonte: www.brasildefato.com.br

Surf 2010 - Parabéns Jadson André!!!




Fonte: ESPN BRASIL

Já proibiram tarde: Abrigos da Georgia, EUA, serão proibidos de executar animais na câmara de gás - Por ANDA

Abrigos da Georgia, EUA, serão proibidos de executar animais na câmara de gás30 de abril de 2010 Por Marcela Couto (da Redação)

Um projeto do senado da Georgia, EUA, votado na semana passada, deixou o estado mais próximo da proibição definitiva da execução de cães e gatos abandonados através da câmara de gás.

A lei também é conhecida como “A lei de Grace,” em homenagem a um cão que sobreviveu a uma tentativa de assassinato pelo uso de gás monóxido de carbono. Os votos até agora foram favoráveis e o projeto está muito próximo da aprovação final.

A construção de novos abrigos com câmaras de gás foi proibida em 1990, mas deixou os existentes em operação. Hoje, cerca de 10 abrigos da Georgia ainda usam o método bárbaro para matar os animais.

O “progresso” da lei não será muito animador, já que estes abrigos ainda terão 3 anos de matança nas câmaras até mudarem o sistema para injeção letal. Nos dois casos, animais inocentes e saudáveis serão assassinados.

A Associação de Médicos Veterinários dos EUA ainda alegou que a morte na câmara de gás “é aceitável,” já que “induz à perda da consciência de forma indolor com mínimo desconforto.” Talvez os orfanatos possam adotar a prática, já que se mostra tão humana e confortável.

Um senador republicano chamado Bill Heath resolveu apoiar os veterniários, descrevendo o quanto se sentiu “bem” quando foi exposto acidentalmente ao gás monóxido de carbono enquanto consertava um carro.O comentário infeliz logo foi rebatido pelo democrata Steve Thompson: “Entre 1941 e 1945 cerca de 6 milhões de pessoas discordariam da opinião otimista de Heath sobre morrer em uma câmara de gás.”

O senador tentou negar a relação com o Holocausto, e ainda reafirmou que o gás seria um método indolor e seguro para executar animais.

A verdade é que o holocausto animal está presente e normatizado nestes supostos abrigos, seja através de câmaras de gás ou injeções letais. A única opção minimamente “humana” seria não assassiná-los.

Com informações de Los Angeles Times
Fonte: http://www.anda.jor.br/

A desgraça da humanidade: Petróleo avança sobre costa dos EUA; Obama promete recursos


Petróleo avança sobre costa dos EUA; Obama promete recursos

Desde que uma plataforma de exploração de petróleo da britânica British Petroleum ter explodido e naufragado nos dias 21 e 22 de abril, no Golfo do México, equipes de emergência da Guarda Costeira dos EUA buscam soluções urgentes para conter os estragos.

O presidente dos EUA, Barack Obama, disse nesta quinta-feira, 29, que "todo recurso disponível" do governo será usado para conter o vazamento. A gigantesca mancha, há horas de atingir a costa de Louisiana, é cinco vezes maior que a estimativa feita pelas autoridades

Equipes iniciaram nesta quarta-feira a queima controlada do petróleo, tentando atrasar a chegada do óleo à costa do Estado americano da Louisiana. Imagens de satélite da Nasa mostram que o derramamento tem cerca de 2.500 quilômetros quadrados de área, duas vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro.

A decisão de atear fogo, apesar de drástica, é vista como uma das únicas alternativas para conter o avanço da maré negra de petróleo, que já avançou até uma distância de 37 km dos pântanos da Louisiana, um importante santuário para aves aquáticas e outras espécies da vida selvagem.

O governo americano classificou o vazamento como um evento de importância nacional, possibilitando assim o uso de recursos de várias partes do país para conter os cerca de 5 mil barris de petróleo por dia. Os esforços são dificultados pela profundidade do poço, cerca de 1.525 metros abaixo da superfície.

Terra Magazine

Brasil: O triunfo da experiência sobre a expectativa - Por Danilo Chaves Nakamura

Brasil: O triunfo da experiência sobre a expectativa

Descontando ar de deboche [riso] dos vencedores que tal edição carrega, o fato é que essa decolagem do Brasil rumo ao seu inevitável destino de país do futuro tem como contrapartida o encurtamento dum horizonte histórico alternativo. Por Danilo Chaves Nakamura [*]

“As noites cegas são poderosas, mas nós, nós somos a sua paciência”.
Victor Serge

Stefan Zweig (1881-1942), autor que de tempos em tempos é relembrado aqui no Brasil por ter reforçado a mitologia de que somos o país do futuro, volta a merecer citações após recente edição da revista The Economist intitulada “Brazil takes off”. As quatorze páginas da edição são divididas em oito artigos com títulos no mínimo sugestivos: “Getting it together at last”, “Breaking the habit”, “Survival of the quick-est”, “Arrivals and departures”, “Condemned to prosperity”, “The self-harming state”, “A better today” e “Two Americas ”[1].

De forma resumida podemos assim apresentar os artigos: O Brasil - que sempre foi visto como o país do futuro, mas que em seu passado não soube aproveitar as oportunidades - vive desde 1994 “a real miracle” com a implantação do Plano Real, a disciplina nas finanças e nos gastos públicos, um maior controle nos bancos e fundos, as privatizações de companhias públicas, as reformas para concessão de crédito e na lei de falência e etc. Com esse milagre, iniciado pelo governo Fernando Henrique Cardoso e continuado pelo governo Lula, o Brasil se tornou mais seguro e previsível para os investidores e as companhias brasileiras puderam competir no mercado exterior (Petrobrás, Vale do Rio Doce, Embraer, Gerdau, CSN, Perdigão, Sadia, JBS-Friboi, Odebrecht, Camargo Corrêa, Votorantim, Natura e outras).

Surfando nesse mar de prosperidade o Brasil soube reconhecer sua vocação histórica de produtor de commodities desmentindo os intelectuais brasileiros que costumavam argumentar que o papel do país como um produtor de commodity o relegaria permanentemente à periferia da economia mundial. Além disso, políticas sociais como o Bolsa Família e a política de aumento do salário mínimo incluíram milhares de pessoas no consumo, transformando a realidade do Brasil profundo, diz a revista: “On a Saturday night in Canudos, a town of 15.000 people in the interior of Bahia state surrounded on all sides by parched, silvery Forest, there is a lot of consumption going on. Everyone has mobile phone, a few people have a new cars, and early-evening courting is fuelled by branded beers and hot dogs”[2].

Mas muita coisa ainda precisa ser corrigida, diz The Economist: A concentração de terras gera uma disputa por terras que resulta no desmatamento descontrolado na Amazônia e nas invasões de fazendas pelo Movimento dos Sem Terra (MST). A desigualdade na infra-estrutura dificulta o escoamento de mercadorias. O Estado brasileiro é fraco onde deveria ser forte (educação, justiça, segurança, controle da economia informal) e forte onde deveria ser fraco (emperrando licenças ambientais para a construção de novas usinas ou portos e tornando difícil a contratação e a demissão de empregados pelas grandes companhias, por exemplo). E a Constituição Brasileira, segunda a revista, mais parece um orçamento do que a descrição de um conjunto de instituições para governar, pois ela foi escrita antes que a inflação fosse controlada, “(…) it is a monument to indexation ”[3].

Ainda segunda a revista, o Brasil vive hoje uma situação inédita, pois conquistou três pré-requisitos essenciais para desenvolver-se: democracia, crescimento econômico e inflação baixa. No século XIX tínhamos o problema da escravidão e a dependência desse tipo de mão-de-obra para a produção de commodities atrapalhou o desenvolvimento. No século XX o Brasil desfrutou de um “falso” milagre econômico. Sim, cresceu mais do que qualquer país, salvo Japão e Coréia do Sul; todavia, era dependente de um modelo estatal de desenvolvimento, não controlou a inflação e os juros altos e tinha pouca disposição para poupar. A novidade do século XXI é que com a junção dos três pré-requisitos citados acima finalmente estaríamos realizando nossas expectativas de país do futuro. Se o passado foi marcado pelo triunfo da experiência sobre a esperança, hoje essa esperança estaria sendo realizada.

É sobre essa presentificação do futuro que esse texto procurará apresentar algumas idéias. Trata-se sugerir que essa realização da esperança que The Economist fala é ainda um triunfo da experiência sobre as expectativas e não a realização do seu contrário, como eles querem. O objetivo, no entanto, não é desmentir a revista - uma vez que, um bom sociólogo ou um bom economista educado numa boa universidade facilmente nos desbancaria demonstrando com números e gráficos que nunca na história desse país tivemos uma conjuntura tão favorável para o crescimento econômico e para distribuição de renda – mas sim apresentar algumas hipóteses e buscar pensar o sentido desse “real miracle” [“milagre real”] de forma diferente do liberalismo delinqüente da revista inglesa.

Revisitando a idéia de sentido e formação
“Se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamante; depois, algodão, e em seguida café, para o comércio europeu. Nada mais que isto. É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileira. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura, bem como as atividades do país. Virá o branco europeu para especular, realizar um negócio; inverterá seus cabedais e recrutará a mão-de-obra que precisa: indígenas ou negros importados. Com tais elementos, articulados numa organização puramente produtora, industrial, se constituirá a colônia brasileira. Este início, cujo caráter se manterá dominante através dos três séculos que vão até o momento em que ora abordamos a história brasileira, se gravará profunda e totalmente nas feições e na vida do país”[4].

A interpretação de Caio Prado Jr. com sua ênfase na força formadora do sentido ainda hoje arrepia os pêlos de muito historiador. “Nada mais que isto”. “Tudo se disporá naquele sentido”. “Organização puramente produtora”. Para nossa historiografia hegemônica, a interpretação de Caio Prado é unilateral, pois dá uma ênfase demasiada para a dinâmica externa. É reducionista por sinalizar um único sentido excluindo um “mosaico de sentidos” que foi o nosso passado colonial: cultura indígena, cultura africana, agregados, desclassificados, povo miúdo e a resistência de todos esses marginalizados. Ou ainda, homens de grossa ventura que participavam do grande comércio de escravos, comércio escravista interno entre pequenos agricultores, produção de subsistência no interior profundo do território colonial e etc.

Antes de tudo, seria necessário contextualizar a interpretação de Caio Prado no debate político sobre os rumos que o Brasil do século XX deveria tomar tentando reverter o quadro da dependência externa, assunto amplamente debatido nos anos 30 e 40. Trabalho que dificilmente se vê naqueles que tratam esse autor como cachorro morto. E, depois, ler a idéia de sentido à luz de uma escolha metodológica, outra coisa fora de moda e desnecessária na historiografia hard dos dias de hoje[5]. Sem negarmos os avanços dos trabalhos contrários ao marxismo de Caio Prado, acreditamos que o momento político exige que reforcemos e atualizemos a idéia de sentido.

Lá, Caio Prado lia a evolução histórica brasileira à luz de um horizonte histórico expandido e aberto. Apesar de toda nossa herança colonial entranhada profundamente na população (ausência de nexo moral, raças e indivíduos que mal se unem, não se fundindo num todo coeso), diz o autor: “haverá resultantes secundárias que tendem para algo mais elevado”[6]. Ou ainda, nos anos 60 diante da ditadura militar: “(…) a História de um ponto de vista dialético em cada fato encerra um devenir que o projeta no futuro e na fatal transformação da sociedade”[7]. A movimentação da sociedade pré-golpe emprestava profundidade para o autor pensar uma eminente revolução. Transformação inerente à nossa formação que ele negou nomear a priori: revolução socialista, democrático-burguesa ou qualquer outra.

Aqui, nossa tarefa é demonstrar que o Brasil que nasceu no contexto da expansão dos Estados nacionais da Europa, que funcionou como simples reserva patrimonial, base comercial e produtiva, terreno de operação de força de trabalho compulsório e etc.[8] mas não realizou a expectativa que na conjuntura de Caio Prado parecia ser possível e, digamos assim, o horizonte reduziu-se drasticamente, para falar como o filósofo Paulo Arantes. Ou seja, a idéia de revolução foi colocada para escanteio. Hoje o Brasil é considerado um gigante entre as economias em desenvolvimento, é acusado de imperialista diante das frágeis economias sul-americanas, tem um presidente que de “serial loser” [derrotado sistemático] passou a ser o cara na política internacional e é visto com otimismo pelos analistas econômicos do mundo inteiro: “A maior economia da América Latina desfruta o seu melhor momento em um longo tempo. Um dos últimos países a cair na retração global provocada pelo setor financeiro em 2007, o Brasil também foi um dos primeiros a sair. Pela primeira vez em sua história, conseguiu uma combinação de crescimento econômico, inflação baixa e democracia plena e a boa fortuna parece que deve continuar”[9]. No entanto, podemos aqui repetir essa frase de Caio Prado, pois ainda estamos longe de poder dizer que temos uma sociedade coesa: “Muito poucos elementos novos se incorporarão a este cimento original da sociedade brasileira”[10].

Sim, o Brasil se industrializou e criou as condições para se tornar um importante locus de valorização financeira. Também se transformou em modelo de sucesso do chamado agro-business. E, esse processo de modernização deu novos contornos e tornou ainda mais complexa nossa vida social e política. Todavia, tanto lá como aqui, quem dá as cartas no processo de formação da sociedade brasileira é o capital. No período colonial na forma escravista-mercantil em sua associação ao capital comercial onde a dinâmica entre metrópole e colônia, embora única e entrelaçada, criou uma espécie de dualismo ou sujeito dual[11] onde do lado de cá todo tipo de violência era permitido. Hoje na forma financeira cuja distinção centro/periferia foi internalizada pelas grandes cidades globais[12] e a violência acontece de forma cada vez mais aberta e explícita.

Tudo se concentra nas cidades globais: o processo de valorização do capital, o crescente movimento de diferenciação no mundo do trabalho, o controle dos elementos capazes de ameaçarem a “coesão social”, a proliferação de guetos urbanos (seja a favela onde é jogada a população pobre, seja os grandes condomínios de luxo onde a elite se protege), a violência estatal travestida pela idéia de segurança pública e etc. Cabe então nos perguntar: Qual o sentido dessa decolagem quando o que está em jogo não é só a economia, mas a vida digna da humanidade?

Estrangeiros e assistidos
Diante do cenário que apenas rascunhamos acima podemos levantar alguns exemplos que configuram o modo de funcionamento das urbes insensíveis dos negócios onde os desastres tornam-se oportunidades de investimentos, assim como apontar para o sofrimento de grande parte população que vive nessas grandes cidades, mas que foi rifada do mercado de trabalho e transformou-se em público alvo de programas sociais (12 milhões de assistidos pelo Programa Bolsa Família) ou passou a ser estrangeira, uma escória social que deve ser encarcerada (aproximadamente 500 mil, num crescimento de 89% nos últimos oito anos) ou eliminada diante da generalização da insegurança salarial e social da nova rodada de acumulação capitalista.

Não há nenhuma novidade nas atuais escolhas administrativas do poder público frente às enchentes que a cidade de São Paulo viveu nos dois últimos meses. Em meados da década 60 a cidade permaneceu alagada por dias em decorrência de fortes chuvas, mas a Light, que detinha o monopólio dos serviços de produção e distribuição de energia elétrica, manteve fechada as comportas de sua barragem no Tietê. A lógica era simples: mais água represada, mais hidroeletricidade na usina de Cubatão, mais lucro. O historiador Janes Jorge traz esse e muitos outros exemplos na edição de janeiro da revista Carta Capital. No final de 2009 algo parecido aconteceu: as seis comportas da barragem da Penha, na zona leste de São Paulo, foram completamente fechadas às 2h50 do dia 8 de dezembro, dia em que a cidade enfrentou fortes temporais e viu diversos pontos alagarem como há muito tempo não se via. Somente dois dias depois, às 17h20, todas as comportas foram abertas. Os dados, fornecidos pelo engenheiro responsável pela barragem, João Sérgio, indicam que houve uma clara escolha da empresa responsável: alagar os bairros pobres da zona leste para evitar o alagamento das marginais e do Cebolão, conjunto de obras que fica no encontro dos rios Tietê e Pinheiros[13].

Além da escolha “racional” da administração da cidade de São Paulo em preferir alagar os bairros e evitar que as marginais fossem interditadas, existem outras razões para tal escolha. Os bairros ocupados de forma espontânea pela população sem-teto que estão na margem do rio Tietê precisam ser desocupados para a construção do maior parque linear do mundo que será construído pelo Governo do estado de São Paulo (parque com 75 km de extensão e 107 km² de área passando pelos municípios de São Paulo, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Poá, Suzano, Mogi das Cruzes, Biritiba Mirim e Salesópolis).

Moradores de bairros como o Jardim Pantanal, Jardim Romano e Jardim Helena vivem uma situação de grande indefinição. Trata-se de bairros extremamente pobres. O Jardim Helena, por exemplo, tem uma população de 125 mil habitantes e possui uma renda média de 584 reais. A Prefeitura de São Paulo, a fim de retirá-los da região, está oferecendo bolsas aluguéis de R$ 300,00 para os próximos seis meses. Diversas outras regiões da cidade vivem o mesmo dilema.

Se, por um lado, a lógica de exclusão da cidade de São Paulo oferece bolsas para uma parte da população, do outro, apresenta a “tolerância zero” do aparelho penal e da violência policial. O levante de maio de 2006 do Primeiro Comando da Capital (PCC) é um exemplo paradigmático. Escreve Paulo Arantes: “(…) 15 de maio de 2006 se auto-impôs um humilhante toque de recolher por motivo de uma surpreendente onda de ataques cuja cadeia de comando – sem nenhum favor ao trocadilho fácil, porém exato – remontava a uma ordem emanada do interior de um gigantesco sistema prisional rebelado há três dias em pelo menos 73 das 105 prisões semeadas ultimamente no território de todo o estado de São Paulo por uma política de encarceramento de proporções inéditas, mesmo para um país de forte tradição punitiva no trato brutal com os de baixo”.

Mais a frente: “(…) Não é retórica estatística. A renda per capita atual no Brasil é inferior a 1/5 da americana; em 1980 estava próxima de 1/3 e a renda do trabalho representava a metade de toda a renda nacional; enquanto isto, os ricos dobraram quantitativamente, com a particularidade reveladora de que nesta camorra dos endinheirados cerca de 40% chegou a tal condição por meio de herança patrimonial, sendo que tal riqueza deriva cada vez menos de atividades produtivas lícitas. Ocorre que nestes 25 anos de estagnação e desindustrialização, o país se urbanizou em incríveis 80% de sua população. Só que agora faz tempo que urbanização deixou de ser sinônimo de desenvolvimento, mas de favelização e economia informal, quando não francamente ilegal. Sinal de que a fronteira urbana também chegou ao fim, com a conseqüente saturação da terra ocupável, provocando uma onda de marginalização dentro da marginalidade”[14].

A contrapartida estatal a esse levante foi grande. 493 pessoas foram executadas entre o dia 12 e 20 de maio no território de São Paulo. Só a título de comparação, durante os 20 anos de ditadura militar (1964-1984) 424 é o número de mortos e desaparecidos.

Resistência Popular
De forma resumida podemos dizer que o chamado “real miracle” [“milagre real”] festejado por The Economist desregulamentou o Estado Social – que no Brasil nunca existiu de forma plena – e fragmentou a resistência da esquerda histórica. O PT, o maior partido de esquerda do mundo, hoje gere o capital e segue o receituário das políticas mundiais transformando a pobreza em problema administrativo e em momento de oportunidade[15]. Suas dissidências (PSOL e PSTU) se esforçam para reerguer aparelhos – sindicatos, centrais, diretórios estudantis e etc. – agora sem uma base militante. Grandes sindicatos transformaram-se em espaço para o gangsterismo. E movimentos sociais, como o MST, aos poucos vão se tornando movimentos de dirigentes, pois estão perdendo suas bases com o avanço das políticas compensatórias do governo[16].

E entendamos bem, diagnosticar esse momento histórico não é falar mal da esquerda. Tão pouco uma antevisão que muitos “Joãozinhos do passo-certo” ficam profetizando por ai: “A forma partido se esgotou”, “A forma sindicato acabou”. Se o problema fosse somente os partidos e os sindicatos estaríamos muito bem. O problema, discutido seriamente, é que o atual momento histórico talvez tenha mostrado os limites da política representativa e, nesse limite, a esquerda inteira está mergulhada (seja por escolha, convicção, oportunismo, responsabilidade ou simplesmente bom senso). Uma discussão séria sobre isso deveria demonstrar como o caminho até esse limite foi sendo moldado ao longo da história com vitórias e derrotas. Hoje, os partidos disputam o poder, os sindicatos do setor público reivindicam melhores salários e os movimentos reivindicativos (pela reforma agrária, por moradias, pelo passe-livre, por empregos, por direitos humanos) se movimentam e lutam por reconhecimento no interior do Estado.

Acontece que essa luta por reconhecimento se dá no interior não de um Estado Social (marcado por políticas salariais e conquista de direitos), mas dum Estado policial e penal. Daí toda essa discussão sobre criminalização dos movimentos sociais, criminalização da pobreza e coisas do gênero. É nessa nova configuração do Estado com um braço assistencial e outro policial que, digamos assim, nosso interlocutor deve ser expandido. Pois, se é certo que as antigas lutas da classe trabalhadora não devem ser abandonadas, talvez também seja certo que a noção de classe trabalhadora deva ser ampliada, uma vez que a situação anterior da sociedade salarial com direitos conquistados (longe de ser ideal) parece não ter retorno.

Dizemos isso porque talvez seja interessante nos atentarmos para o movimento duma camada social – ainda invisível para a esquerda de “raiz” – lá onde ele pode caracterizar-se como resistência popular frente ao poder do capital.

São vários os exemplos: Nos bairros da zona leste de São Paulo, as famílias atingidas pelas enchentes que se negaram a receber a bolsa-aluguel da prefeitura estão se organizando em diversos movimentos. Na zona sul o mesmo acontece, principalmente após dia 19 de janeiro, quando a população da Cidade Dutra confrontou a polícia por mais de 5 horas. O protesto se iniciou com mais ou menos 100 pessoas na Avenida Teotônio Vilela. Mais tarde, segundo relatos, foi engrossado com a participação de jovens ligados ao tráfico de drogas, pois as enchentes estavam atrapalhando o funcionamento do comércio de drogas na região. O cenário era digno de um “favela movie” [“filme de favela”]. Criança de 13 anos dirigindo um ônibus, meninos com mochilas cheias de molotov queimando ônibus ou jogando-os contra a polícia, barricadas de lixo fechando diversas outras ruas… Nesse mesmo período assistimos também a um monumental confronto de camelôs [vendedores ambulantes] contra a polícia na Rua 25 de Março; o confronto deixou as lojas fechadas das 9h às 15h no dia 11 de novembro. No mesmo centro da cidade, jovens de todos os cantos da cidade misturados com moradores de rua do centro se reuniam semanalmente para protestar contra o aumento da tarifa dos transportes públicos. No dia 10 de janeiro, manifestantes da chamada Rede Contra o Aumento da Tarifa foram duramente reprimidos pela polícia. Por fim, outro evento importante desse final do ano foi a marcha dos imigrantes. Majoritariamente composta por bolivianos, essa movimentação visa questionar a situação de ilegalidade assim como as condições de trabalho a que os imigrantes estão submetidos[17].

Esses diversos exemplos nos permitem repensar a dinâmica das lutas sociais e ao mesmo tempo fugir duma cômoda resposta de que vivemos um período de refluxo ou, como diz a direita, do fim da luta de classes. Claro, nada de profundo parece estar acontecendo, uma vez que a dimensão do político aos poucos está sendo diluída na esfera econômica e a pobreza vai se tornando um problema técnico-administrativo. E sim, também sabemos que essas movimentações que citamos acima são insuficientes e limitadas. No entanto, talvez seja conveniente percebemos que os desempregados, os sem-teto, os camelôs, os jovens periféricos, os imigrantes e todo o povo miúdo descartado do processo de valorização “legal” do capitalismo travam lutas anticapitalistas. O êxito dessas lutas emperraria o livre e desobstruído movimento do capital, ao mesmo tempo que produziria um questionamento profundo sobre a forma de ordenação das grandes cidades.

Conclusão
“Brazil Takes Off” [“O Brasil arranca”]. Descontando ar de deboche [riso] dos vencedores que tal edição carrega, o fato é que essa decolagem do Brasil rumo ao seu inevitável destino de país do futuro tem como contrapartida o encurtamento dum horizonte histórico alternativo, para lembrarmos novamente o diagnóstico do Paulo Arantes.

A idéia de sentido e de formação tinha por detrás a concepção de tempo histórico como contínua superação. Embora Caio Prado afirmasse que poucos elementos novos se incorporaram ao cimento original da sociedade brasileira, a história lhe parecia disponível. Se a idéia de sentido possibilitava ao historiador descrever o que se realizou no longo prazo, a idéia de formação (e devir) abria possibilidades para o agir humano.

Mas hoje tudo se passa como se a idéia de futuro estivesse fora do alcance humano. Fazer política virou uma questão técnico-administrativa. Resistir às forças do mercado se tornou algo insensato, ressentimento de revanchistas e caso de polícia. Os supostos sujeitos históricos e supostas classes revolucionárias não se movimentam nem como sujeitos e nem como classes. O que temos é uma atomização generalizada.

É diante desse cenário catastrófico, produzido pela configuração do capitalismo em sua nova rodada de acumulação – domínio financeira, apartheid das grandes cidades, pobreza administrada, desastres “naturais” como oportunidade de negócios - que devemos restabelecer uma política que devolva a dignidade à vida humana lá onde o capital triunfa.

Notas
[*] Historiador formado pela USP. Texto escrito em fevereiro de 2010.
[1] Tradução da Carta Capital: “Finalmente está dando certo”, “Mudança de hábito”, “A sobrevivência do mais ágil”, “Chegadas e partidas”, “Condenado a prosperidade”, “O autoflagelo do Estado”, “Um presente melhor” e “Duas Américas”.
[2] “Em uma noite de sábado em Canudos, uma cidade de 15 mil habitantes no interior do estado da Bahia cercada por todos os lados por uma floresta seca, prateada, há muito consumo acontecendo. Todos têm telefone celular, umas poucas pessoas possuem carros novos e o happy-hour é animado com cervejas e cachorros-quentes”. Tradução Carta Capital.
[3] “(…) ela é um monumento à indexação”. Tradução Carta Capital.
[4] PRADO JR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 20° Ed. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 31-32, grifos nossos.
[5] Para uma análise detalhada do cunho filosófico e metodológico da idéia de sentido no texto de Caio Prado ver: GRESPAN, Jorge Luis. A Teoria da História em Caio Prado Jr.. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, v. 47, p. 57-74, 2008. “A “interpretação” não deve inventar sentidos, e sim limitar-se a encontrar o “critério” pelo qual os lados opostos da realidade se “conciliam” na própria realidade. Como vimos, esta tem “aspectos contraditórios”, não sendo nunca unívoca. Por outro lado, o que a “interpretação” faz é formular o “sentido”, ou seja, o “critério” conforme o qual a contradição real se “concilia”, articulando-se de algum modo”. p. 70.
[6] PRADO JR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 20° Ed. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 32.
[7] PRADO JR, Caio. A Revolução Brasileira. In: Clássicos sobre a revolução brasileira. Ed. Expressão Popular, 2005, p. 38.
[8] Ver: PAULANI, L. Brasil Delivery. São Paulo: Boitempo, 2008.
[9] The Economist (tradução Carta Capital): O Mundo em 2010. Janeiro de 2010, p. 77.
[10] PRADO JR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 20° Ed. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 341.
[11] Ver: TEIXEIRA, R. A. O capital como sujeito e o sentido da colonização. In: Anais do XXXIII Encontro Nacional de Economia (ANPEC), 2005, Natal-RN. Anais do XXXIII Encontro Nacional de Economia, 2005.
[12] Ver: ARANTES, P. E. . A Fratura brasileira. In: Zero à Esquerda. 1ª. Ed. São Paulo: Conrad Livros, 2004.
[13] Ver: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2009/12/17/ult5772u6673.jhtm
[14] ARANTES, P. Duas vezes pânico na cidade. In: Extinção. São Paulo: Boitempo, 2007.
[15] MARANHÃO, Tatiana de Amorim. Governança mundial e pobreza – do consenso de Washington ao consenso das oportunidades. Tese de doutorado. Orientadora: Maria Célia Paoli. São Paulo, 2009.
[16] “De 2003 para 2006, o número de famílias atendidas pelo programa passou de 3,6 milhões para 10,9 milhões. No período, o número de famílias que invadiram terras caiu de 65.552, em 2003, para 44.364, em 2006, enquanto a quantidade daquelas acampadas caiu de 59.082 para 10.259. Isso explica por que 11 organizações de sem-terra desapareceram”. In: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1705200916.htm
“Ex-petista e candidato ao governo de São Paulo em 2006 pelo PSOL, Plínio de Arruda Sampaio diz que “há indício forte de que Bolsa Família tira a combatividade das pessoas para lutar pela reforma agrária. É o efeito mais perverso do programa”. Mais à frente: “Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, diz que “o programa gera uma certa acomodação no primeiro momento, é um amortecedor, mas não resolve o problema de ninguém”. Ele continua: “Não é uma situação sustentável. No futuro, a pessoa pode querer ou mais dinheiro da bolsa ou um emprego. A situação do país vai melhorar para oferecer um ou outro? Se não, a luta pela terra pode voltar a ser uma opção”.
Já para Ariovaldo Umbelino, o problema é político: “Esta redução deve ser buscada no conjunto das ações dos movimentos sociais e sindicais que colocaram-se ao lado da defesa do mandato de Lula desde os acontecimentos políticos de 2005 [mensalão]”.In: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0411200703.htm
Para João Pedro Stedile, o programa não atinge o movimento: “O Bolsa Família é uma política para diminuir a fome de milhares de brasileiros, que estão na miséria e não fazem lutas. Não é a base social do MST. A mobilização em ocupações massivas diminuiu porque a reforma agrária está parada, e as ações do INCRA, mais demoradas. As famílias ficam desanimadas”. In: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1801200909.htm
[17] Sobre o trabalho imigrante ver: SILVA, Carlos Freire. Trabalho informal e redes de subcontratação: Dinâmicas urbanas da indústria de confecção em São Paulo. Dissertação de mestrado. São Paulo: USP, 2008.

Fonte: http://passapalavra.info/

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Eleições do Esgoto: Graeff não só comanda os brucutus. É o brucutu

Graeff não só comanda os brucutus. É o brucutu - Por Brizola Neto

Segui uma dica postada aqui e está aí ao lado, para quem quiser ver. Além do site de ataques “gente que mente” (veja aqui a denúncia), assunto escandaloso e encoberto até agora, a direção do PSDB tem um “saco de maldades” preparado e reservado para a campanha suja que vai fazer na web nestas eleições. Reproduzo aí ao lado a página do registro.br que elenca os sites registrados em nome do Instituto Social Democrata, uma instituição criada pelo ex-presidente FHC, e dirigida pelo alto tucanato.

O ISD, que vive de doações privadas e contribuições de sócios, é, segundo seu estatuto, “uma sociedade civil sem fins lucrativos, destinada a promover o debate e a divulgação de idéias e teses da social democracia, buscando aprimorar o pensamento e as propostas de ação relativos aos relevantes problemas nacionais.”. Goza, por isso, de isenções fiscais.

A menos que nesta busca por “aprimorar o pensamento” se inclua o ataque vil e sujo, o que levaria esta intituição a registrar, no final de 2008, um site chamado “www.petralhas.com.br”? Não está no ar, foi ativado e desativado instantaneamente, para ficar guardado, no limbo, para utilização futura, talvez transferido para outro titular.

O responsável pelo registro é o senhor Eduardo Graeff, secretário-geral da Presidência do Governo FHC, tesoureiro nacional do PSDB e homem forte, junto com o ex-ministro (e secretário de Serra) Paulo Renato de Souza.

A sede do ISD é em São Paulo, mas o registro está feito com um endereço residencial em Brasília, que esfumacei na imagem, mas está no original. Fiz o mesmo com o email pessoal do senhor Graeff, porque não faço jogo sujo, ao contrário dele, que não pode se escusar da responsabilidade por isso.

Vou hoje à tribuna da Câmara, desafiar o discurso de bom-moço de José Serra. Toda esta sujeira é feita por seus homens de confiança.

Posso e vou reagir em defesa da campanha de Dilma Rousseff, porque devo lutar contra os métodos sujos da direita – porque ações sórdidas assim não merecem jamais o nome de social-democratas – que quer devolver o Brasil à condição servil.

Mas não posso reagir em nome do PT, embora, sinceramente, não tenha muitas esperanças que este o faça.

Fonte: http://www.novae.inf.br/

A magistral Polícia Militar de São Paulo – essa é a herança de anos e anos de PSDB um governo que faz muito, e bota muito nisso!


PMs são acusados de bater e forjar flagrante em SP
AFONSO BENITES - da Reportagem Local - UOL

Dois policiais militares estão sendo investigados pela corporação sob suspeita de forjar uma apreensão de drogas e agredir um office boy e um ajudante geral numa ação que resultou na prisão de um deles na Casa Verde, zona norte de São Paulo.

Agressões
Segundo a denúncia, os PMs jogaram gás de pimenta nos olhos dos rapazes, ambos de 21 anos, e usaram algemas como soco inglês. Um exame do Instituto Médico Legal, feito na época, comprovou as agressões.

O office boy ficou quatro meses preso por tráfico de drogas. Os advogados sustentam que a PM "plantou" as 37 pedras de crack encontradas com ele.

O rapaz foi solto após o Tribunal de Justiça conceder um habeas corpus no qual contestou a forma como a PM agiu. O TJ disse que os policiais deveriam ter revistado os rapazes na presença de uma testemunha.

Os jovens afirmam que andavam de moto quando foram abordados pelos dois policiais. Os PMs anunciaram a apreensão da moto do office boy, porque ele não tinha habilitação.

Os rapazes e os policiais se agrediram na rua Lucila, em frente à igreja Nossa Senhora das Dores e próximo a uma feira livre. Um padre pediu para que os PMs parassem de bater nos dois. Diz ter sido tratado agressivamente pelos PMs.

Durante a briga, o office boy fugiu dos PMs, mas foi pego minutos depois. Ele foi levado para o quartel, onde diz ter apanhado mais. Dessa vez, os outros policiais que estavam no plantão também os agrediram, segundo a denúncia. Os policiais negam as agressões.

Flagrante
Depois de ficarem cerca de 40 minutos no batalhão da PM, os jovens foram apresentados no 13º DP, onde foi registrado um boletim de ocorrência relatando os crimes de lesão corporal, desobediência, resistência à prisão e tráfico de drogas.

O advogado Antonio Funari Filho disse que se o rapaz fosse traficante teria tempo para se livrar das drogas. "A tese de tráfico é absurda. Antes da prisão, ele conseguiu fugir da PM".

Motoboy foi torturado por PMs, diz secretário
da Reportagem Local - UOL

O secretário de Estado da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, disse em reportagem publicada na Folha deste sábado que não tem dúvidas de que a morte do motoboy Eduardo Luís Pinheiro dos Santos, 30, no último dia 9, na zona norte de São Paulo, foi resultado das torturas que ele sofreu de policiais militares.

A reportagem está disponível para assinantes de jornal e do UOL.

"Não temos dúvida alguma de que ele sofreu tortura, e que foi a tortura que levou o rapaz a óbito", disse. Ferreira Pinto afirma que as investigações do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) apontam que a cena da morte na rua foi "montada" pelos policiais. Segundo ele, o local em que o motoboy sofreu maus-tratos foi uma edícula no prédio da PM.

Os nove policiais militares suspeitos de envolvimento negaram ontem ter cometido o crime.

Ferreira Pinto diz que o caso irritou o governador Alberto Goldman (PSDB) e seu partido, que temem a exploração eleitoral do episódio.

Crime
A vítima morreu após ser espancada. Horas antes, na noite de 9 de abril, o homem havia sido detido com outras três pessoas pelos policiais que foram atender uma ocorrência de furto de bicicleta na esquina da rua Maria Curupaiti com a avenida Casa Verde. Segundo a corregedoria da PM, os suspeitos foram levados para o batalhão da PM ao invés de irem para a delegacia.

No mesmo dia, por volta da meia-noite, a vítima foi encontrada caída no chão por outros policiais na esquina da rua Voluntários da Pátria com a avenida Brás Leme, também na zona norte. O homem foi levado a um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos.

Enganando o mundo mais um vez - Por Latuff



“Sempre podemos enganar o Mundo com os mesmos truques”

A destruição do Mundo pelo Capital!



Vazamento se agrava e já lança 5 mil barris por dia no Golfo do México
BBC-Brasil

A Guarda Costeira dos Estados Unidos disse que a quantidade de petróleo que vaza de uma plataforma de petróleo no Golfo do México que afundou na semana passada é cinco vezes maior do que se pensava.

A contra-almirante Mary Landry, da Guarda Costeira, disse que o equivalente a 5 mil barris de petróleo estão vazando no mar a 80 quilômetros da costa do Estado americano da Louisiana.

Segundo Landry, técnicos da agência americana para Oceanos e Atmosfera (Noaa, na sigla em inglês) revisaram para cima a estimativa do tamanho do vazamento baseados em fotos aéreas, estudo da trajetória da mancha e condições climáticas locais, entre outros fatores.

"Não se trata de uma ciência exata quando estimamos a quantidade de petróleo. Mas a Noaa está me dizendo agora que preferem usar (o dado de) pelo menos 5 mil barris por dia", disse Landry em Nova Orleans.

Mais cedo, uma equipe da Guarda Costeira ateou fogo a parte da mancha de petróleo, em uma tentativa de salvar o frágil ecossistema de manguezais da Louisiana. O Estado abriga cerca de 40% dos pântanos e mangues americanos e é o habitat de inúmeras espécies de peixes e aves.

A queima controlada da mancha foi feita em uma área cerca de 50 quilômetros a leste do delta do rio Mississippi, de acordo com as autoridades.

Mas a mancha pode acabar chegando na costa sexta-feira à noite por causa de uma mudança na direção dos ventos, de acordo com meteorologistas.

Landry advertiu na terça-feira que o trabalho para tapar o poço de onde o petróleo está vazando pode levar meses. A operação está sendo feita com submarinos robôs.

Obama
O presidente americano, Barack Obama, foi informado da evolução do caso, e o governo ofereceu a ajuda do Departamento de Defesa para conter a mancha, disse Landry.

O governador da Louisiana, Bobby Jindal, pediu ajuda de emergência do governo federal.
"Nossa principal prioridade é proteger os nossos cidadãos e o meio ambiente. Estes recursos são críticos para mitigar o impacto da mancha de petróleo em nossa costa", afirmou em nota oficial.

A mancha cobre uma área de cerca de 74,1 mil quilômetros quadrados.
A plataforma Deepwater Horizon, da empresa British Petroleum (BP), explodiu na terça-feira passada e afundou na quinta-feira, depois de ficar dois dias em chamas.

Onze trabalhadores estão desaparecidos - supostamente mortos - depois do desastre, que está sendo considerado o mais grave do tipo em quase uma década.

O PSDB, o FMI e a turma dos 30% - Por Artur Araújo


O PSDB, o FMI e a turma dos 30%

O PSDB de hoje olha a economia e o Brasil com o viés do mundo internacional das finanças e a propensão a pensar em pedaços, em satisfazer-se com políticas que miram só um terço dos brasileiros – os mais ricos – e só uma parte de nosso território – o sul-sudeste. É a turma dos 30%. Expansão de consumo, crescimento de salários, ampliação da produção, desenvolvimento da infraestrutura, inclusão e capacitação das pessoas, todos esses são temas ausentes de suas formulações – ou vistos como “aleijões”.

O artigo é de Artur Araújo - Data: 28/04/2010

O espectro de uma pergunta deveria estar rondando as redações e, se formulada, desnudaria o que realmente separa as duas principais candidaturas à presidência. Bastaria perguntar a José Serra: “o senhor propõe parar o Brasil?”

Explico-me, a partir de três exemplos muito recentes: um artigo de Luis Carlos Mendonça de Barros, as manchetes sobre a orientação do FMI para que o Brasil reduza sua taxa de crescimento e os 50 anos de Brasília.

Em artigo publicado na FSP de 16/04, Mendonça de Barros, o ex-ministro de FHC de volta a sua vida de financista, desnuda o que é o coração da "economia política" do PSDB. Tido e havido como desenvolvimentista, anti-Malan, da escola de Sérgio Guerra e José Serra, Mendonça tem uma tese: "a euforia pelo crescimento nos levará a bater no muro das restrições econômicas; esse filme tem final triste". E para quem esperava as clássicas formulações – sobre os gargalos de infraestrutura, a baixa taxa de expansão da capacidade instalada, a "gastança” em custeio que impede o investimento público – ele abre seu coração e surpreende:

“A maior parte da oferta na economia brasileira é constituída por bens e serviços que não podem ser importados. O mais importante deles é o mercado de trabalho e nele é que está a componente mais ameaçadora que vejo para a frente... Poderemos chegar ao fim deste ano com uma taxa de desemprego da ordem de 6%, mantido o crescimento atual da geração de postos de trabalho. Em março, o número de empregos formais aumentou em 266 mil, número muito forte para o mês.

“A pressão sobre os salários desse segmento dos trabalhadores já está ocorrendo e deve se acelerar... São evidências de instabilidade grave. Dou um exemplo: a produção de caminhões da Mercedes-Benz brasileira em março foi o dobro da matriz na Alemanha. Mesmo com a crise na Alemanha esse número é um aleijão para mim”.

Trocando em miúdos: crescer rápido é um "problema", porque pode gerar aumentos salariais para os trabalhadores e reduzir a taxa corrente de lucros. A ótica do imediatismo salta aos olhos; nem mesmo de relance, o articulista se refere a um ciclo virtuoso, em que o crescimento real da massa salarial implica ampliação da demanda efetiva, cria as condições para expansão da capacidade produtiva (e da formação de mão-de-obra) e para a expansão da própria acumulação de capital, pelo crescimento do volume produzido e realizado.

O seu negócio é o aqui e agora, é o lucro já e o futuro, provavelmente, nem a Deus pertence. O espantalho que agita é o da inflação de demanda, que se recusa a atacar pela via do choque de oferta, do mercado interno de massas e da expansão das exportações de maior valor agregado. Sua panacéia é o aumento dos juros.

Já na cobertura dos jornais paulistas sobre os 50 anos de Brasília, um velho espectro ressurgiu, explicitamente referido, por exemplo, em editorial de “O Estado de São Paulo”: Brasília, entre outras mil de suas supostas mazelas, estaria na origem da espiral inflacionária do início dos anos 1960. Sem, até hoje, compreender o que de fato Brasília realizou, como meta-síntese do programa de desenvolvimento nacional de Juscelino, as vozes do passado ressurgem, opondo-se às obras públicas, à ação do Estado na criação de infraestrutura, na indução econômica e na integração democrática de todos os brasileiros e de todo o território nacional.

A rádio CBN tem apresentado uma ótima série de reportagens sobre a história da criação de Brasília. Em um dos programas, o tema era o debate na imprensa daquela época. A matéria narrava a campanha cerrada que o engenheiro da UDN Gustavo Corção, guru de Carlos Lacerda, movia contra a construção da cidade. Um de seus temas preferidos era o Lago Paranoá que, do alto de sua sapiência, o Dr. Corção garantia que nunca ficaria cheio, dados o regime de chuvas e as características do solo do cerrado.

No dia em que o lago ficou completo, JK, pleno de mineirice e bom humor, telegrafou para a redação do jornal em que Corção escrevia. Usou uma só palavra: “Encheu”.

O que Juscelino enfrentava era uma herança maldita, um Brasil litorâneo que só via a si mesmo, que desprezava mais de dois terços de seu território. A Marcha para o Oeste significou, muito além de Brasília, a experiência pioneira de Ceres, cidade-modelo agrícola implantada em Goiás, em que se desenvolveram as técnicas de correção de solo que permitiriam a expansão agrícola e que hoje fazem do Brasil um ator mundial em alimentos e biomassa para geração de energia. Significou, também, a abertura da rodovia Belém-Brasília (aquela que a UDN chamava de estrada para onça), articulando os eixos Norte e Oeste do desenvolvimento nacional.

E significou, mais do que tudo, para todos os brasileiros, trabalhadores ou empresários, uma mudança de postura e ângulo; Brasíla permitiu que olhássemos mais e melhor para os nossos próprios potenciais e capacidades.

O FMI, que não é daqui, ecoa a mesma lógica. Seu mais recente relatório, diz a FSP em manchete, “vê economia brasileira ‘no limite’”. Forçado pelos fatos a revisar – para cima – sua estimativa de crescimento da economia do Brasil, “aponta demanda ‘em estágio avançado’ e espera medidas para desacelerar crescimento de 5,5% neste ano para 4,1% em 2011”. Tanta coincidência, até de terminologia, é sintoma de um alinhamento automático, de um modo de pensar e conduzir o país.

O PSDB de hoje, por vezes até mais que os “demos”, olha a economia e o Brasil com esse viés. O que os orienta é o mundo internacional das finanças e a propensão a pensar em pedaços, em satisfazer-se com políticas que miram só um terço dos brasileiros – os mais ricos – e só uma parte de nosso território – o sul-sudeste. É a turma dos 30%.

Expansão de consumo, crescimento de salários, ampliação da produção, desenvolvimento da infraestrutura, inclusão e capacitação das pessoas, todos esses são temas ausentes de suas formulações – ou vistos como “aleijões”. Aumento continuado e real do salário mínimo, instituição de pisos salariais nacionais, redução de jornada de trabalho, pleno emprego, PAC, PROUNI, são pautas que os levam à beira do pânico. Tudo que seja para todos é risco, não oportunidade.

Ainda que se dê a José Serra o benefício da dúvida, do quanto ele ainda preserva de seu suposto desenvolvimentismo, não é despropositado indagar o quanto ele “resistiria” à pressão combinada do tucanato econômico, do udenismo paralisante e elitista e da banca mundial, falando pela boca do FMI. A experiência FHC não traz muitas esperanças quanto a isso. Um jornalista arguto qualificaria a pergunta que abre este texto e questionaria o que o candidato faria com a turma dos 30%, aqueles que, há décadas, sempre estiveram do seu lado e sempre quiseram que o Brasil pudesse menos.

(*) Artur Araújo é consultor especializado em gestão pública e empresarial
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Opus Dei não quer o juiz Garzón na mídia brasileira - Por Alberto Dines

RECLAME, COBRE: Opus Dei não quer o juiz Garzón na mídia brasileira

Por Alberto Dines em 27/4/2010

A Espanha rachou novamente e o protagonista é um de seus heróis. Não se trata do cineasta Pedro Almodóvar, nem do ex-tenor agora barítono Plácido Domingo, do piloto Fernando Alonso ou do tenista Rafael Nadal.

Aos 55 anos, traços de galã, precocemente grisalho, o juiz espanhol Baltasar Garzón é o novo tipo de herói num mundo dominado pela banalidade e pela complacência. Destemido, pertinaz, incorruptível, conseguiu colocar o ditador chileno Augusto Pinochet em prisão domiciliar, obteve altíssimas penas de prisão para dois facínoras da repressão argentina, tentou quebrar as imunidades do premiê Silvio Berlusconi, acusou formalmente o segundo maior banco espanhol, o BBVA, de lavagem de dinheiro, investiu contra os terroristas do ETA, contra o sistema de torturas do governo Bush, derrubou o seu próprio partido, o PSOE, e mais recentemente assumiu as investigações contra a alta direção do PP, Partido Popular, de direita, envolta numa incrível rede de corrupção.

Garzón está sacudindo a Espanha por causa de uma sangrenta conflagração encerrada há 71 anos. No sábado (24/4), em 21 cidades do país e em sete do exterior, entre 60 e 100 mil pessoas saíram à rua para protestar contra renascimento do furor fascista, 31 anos depois da morte do caudilho – parceiro de Hitler e Mussolini – Francisco Franco.

Falanges histéricas
Apesar do seu acervo de façanhas, o magistrado Garzón corre o risco de sentar no banco dos réus e ser destituído de sua função na Audiência Nacional (a mais alta corte criminal espanhola) justamente porque não reconhece os limites impostos pela Lei de Anistia e iniciou as investigações sobre os terríveis crimes praticados pelos fascistas espanhóis durante a Guerra Civil (1936-1939) e os 37 anos seguintes da ditadura de franquista.

Seu acusador, Luciano Varela, juiz de instrução do Tribunal Supremo, quer enquadrá-lo por "abuso de poder" porque não teria competência para iniciar essa investigação. A direita espanhola (que compreende um pool de interesses empresariais, ideológicos e religiosos) quer vingar-se de Garzón porque suas investigações sobre os escândalos do PP desmoralizam não apenas os projetos eleitorais do partido, mas a herança reacionária firmemente encastelada na sociedade espanhola.

Garzón alega que a Lei de Anistia e a Lei de Memória Histórica não impedem investigações de crimes de lesa-humanidade. O Ministério Público (Fiscalia) não endossa as acusações de prevaricação manifestadas pelos juízes franquistas. Mas o Partido Popular investigado por Garzón corre o risco de desaparecer se as investigações de corrupção forem adiante – e suas falanges estão histéricas.

Fantasmas do passado
O caso do Quixote togado ameaçado de punição por um judiciário infiltrado pelo totalitarismo dos anos 1930-40 está apaixonando a Espanha, comove a Europa, mexe com a América do Sul, porém não toca nem anima os álgidos "porteiros" de nossas redações.

Explica-se: mencionar a direita espanhola significa mencionar a Opus Dei. E a prelazia queridinha do papa João Paulo II, firmemente infiltrada na mídia brasileira, sobretudo nos escalões intermediários, abomina holofotes. Prefere operar na sombra.

A mídia européia e americana solidarizou-se com Balta Garzón: para o New York Times, The Guardian, The Economist, o Liberation e Le Monde investigar os desaparecimentos durante a Guerra Civil não é delito, delito é perseguir um juiz que vai às últimas conseqüências em busca da verdade.

O cerco a Garzón dificilmente empolgará nossa mídia e não apenas por causa do embargo da Opus Dei nativa, mas porque o recente imbróglio em torno do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) foi resolvido com um acordo entre as partes: o governo retira do programa os itens que desagradam à mídia e esta não insiste na reabertura das investigações sobre as violências cometidas pelos órgãos de segurança durante o regime militar.

O franquismo estaria hoje esquecido na Espanha se o establishment direitista – ao contrário do que aconteceu na Alemanha – não teimasse em ressuscitar e reabilitar os fantasmas que criou no passado.

Escreva ao seu jornal ou revista, caro leitor. Cobre deles um mínimo de informações sobre a perseguição a Baltasar Garzón. Você tem esse direito. Pergunte por que razão o cidadão brasileiro deve ser narcotizado pelas irrelevâncias e mantido à margem das trepidações que estão mudando o mundo. [Texto fechado à 0h35 de 27/4/2010]

Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br

terça-feira, 27 de abril de 2010

ALCARALHO COM O FMI – O retrocesso do Brasil

Serra repete discurso pró-ALCA da campanha de Alckmin

Ao caracterizar Mercosul como uma "farsa" e defender a "flexibilização" do bloco, o ex-governador José Serra repete discurso usado na campanha de Geraldo Alckmin em 2006. Menor peso para o Mercosul e retomada das negociações para uma Área de Livre Comércio nas Américas fazem parte da agenda política do PSDB. Senador tucano chegou a prever que "ALCA sairia com ou sem o Brasil". E o governador mineiro Aécio Neves enviou carta ao presidente Lula, em 2003, propondo que Belo Horizonte fosse a sede da ALCA.

Marco Aurélio Weissheimer

O pré-candidato à presidência da República, José Serra (PSDB), vem tentando consertar as críticas que fez ao Mercosul durante palestra na Federação de Indústrias de Minas Gerais. Serra disse que o bloco sulamericano era uma “farsa” e “uma barreira para que o Brasil possa fazer acordos comerciais”.

Diante da repercussão negativa das declarações, especialmente nos países parceiros do Brasil no Mercosul, o ex-governador de São Paulo recuou dizendo que defende apenas a “flexibilização do bloco”. “O Mercosul deve ser flexibilizado de modo a evitar que seja um obstáculo para políticas mais agressivas de acordos internacionais”, disse Serra em entrevista à Folha de S.Paulo. A mudança de discurso, na verdade, foi uma troca de seis por meia dúzia. A integração sulamericana nunca faz parte da agenda de Serra e de seu partido o PSDB.

Além de desastradas diplomaticamente, as declarações de Serra não são sequer originais. Elas foram repetidas por lideranças tucanas no início da campanha de Geraldo Alckmin, em 2006. Logo após ser anunciado como candidato do PSDB à presidência da República, Alckmin começou a discutir com um grupo de especialistas reunidos por ele, que recebeu o apelido de República dos Bandeirantes.

Esse grupo definiu a agenda do que seria um governo tucano no Brasil: reforma trabalhista radical, com corte de encargos e direitos; privatização de todos os bancos estaduais, fusão dos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (ou seja, o fim deste último), adoção da política do déficit nominal zero, menor peso ao Mercosul e retomada das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA).

Ao chamar o Mercosul de “farsa” e defender a “flexibilização” do bloco, Serra está apenas repetindo o que disseram em 2006, Roberto Giannetti da Fonseca (empresário, ex-secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior), Arthur Virgílio (então líder do PSDB no Senado) e o governador de Minas Gerais Aécio Neves, etre outros.

Em matéria publicada no dia 10 de janeiro de 2006, a Folha de S.Paulo definiu assim o pensamento de Giannetti da Fonseca sobre uma futura política externa tucana: “pouco simpático ao Mercosul no formato atual, cobra evolução mais rápida dos acordos comerciais com a ALCA e as negociações com a União Européia”. Em novembro de 2005, o senador Arthur Virgílio aproveitou a visita de George W. Bush para defender a retomada das negociações da ALCA.

Para Virgílio, a aliança comercial com os EUA era de interesse do Brasil e deveria “ser buscada e perseguida e não suportada ou adiada”. A ALCA surgirá com ou sem o Brasil, profetizou na época o senador tucano. “Sem o Brasil, ela fará a alegria do México”, acrescentou, defendendo que a prioridade da política externa brasileira deveria ser um pacto político com os EUA em troca de vantagens comerciais claras, incluindo aí a queda de barreiras alfandegárias.

Nenhuma das previsões do senador se concretizou. A ALCA não surgiu sem o Brasil e o México não fez a festa com ela. Quando a maioria dos governos da América Latina decidiu apostar na integração regional em detrimento da proposta da ALCA, o discurso tucano perdeu força, sendo agora recuperado por Serra.

A simpatia do PSDB em relação à ALCA manifestou-se também através de outras iniciativas. Em 2003, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, encaminhou correspondência ao presidente Lula apresentando a candidatura de Belo Horizonte para abrigar a sede permanente da secretaria geral da futura Área de Livre Comércio das Américas.

Na carta, Aécio defendeu, entre outras coisas, que o Brasil deveria incluir, na sua pauta de negociação sobre a criação da área de livre comércio hemisférica a proposta de trazer para cá a sede da organização. “A questão da cidade-sede da área de livre comércio torna-se particularmente estratégica. São evidentes os ganhos oriundos de abrigar a ALCA não apenas para Minas Gerais, mas para todo o Brasil”, profetizou o governador mineiro.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br

Parabéns a Mumia Abu-Jamal no centro de Berlim, na Alemanha - ANA


Parabéns a Mumia Abu-Jamal no centro de Berlim, na Alemanha

Neste sábado (24 abril), na passagem do 56º aniversário de Mumia Abu-Jamal, foi desfraldado na fachada de um prédio próximo da Câmara Municipal de Berlin um enorme banner com uma imagem de Mumia e uma estrela preta e vermelha, e os dizeres: "Parabéns pelo seu aniversário! 28 anos de resistência ao isolamento e à pena de morte nos EUA - Free Mumia!".

Ainda em Berlim foi organizado um concerto em praça pública pela liberdade e pela abolição da pena de morte, com a presença de aproximadamente 300 pessoas. No evento foi armada algumas bancas de informações, uma especial, onde os indivíduos tinham a oportunidade de enviar postais diretamente para Mumia. Também houve a apresentando de um CD musical de solidariedade a Mumia chamado "28 years of injustice - Free Mumia Now!", que contou com a participação de quase 40 artistas de várias partes do mundo. No final da jornada as pessoas cantaram Feliz Aniversário para Mumia.

Desde o início da semana passada em outras cidades alemãs como Stuttgart, Lingen, Düsseldorf, Nuremberga, Kiel e Hildesheim foram registrados uma série de eventos e manifestações de apoio, contra a execução e pela liberdade de Mumia.

Também ocorreram manifestações nas cidades estadunidenses de Nova York, Baltimore, Filadélfia, Washington DC, Texas e São Francisco. Em cerca de 60 estações de rádios locais dos Estados Unidos foram transmitidos programas de apoio à Mumia, na luta pelo seu direito legítimo a um novo julgamento, por sua vida e liberdade. Na Cidade do México, Londres e Paris aconteceram manifestações de solidariedade.

Canção Mumia Abu-Jamal Happy Birthday (Feliz Aniversário), por Conscious Plat: http://www.youtube.com/watch?v=5JE77JJ9AnY&feature=player_embedded

Mumia é vitima de uma armação política e policial

Mumia Abu-Jamal foi condenado à morte injustamente em 1982 como suposto assassino de um policial na Filadélfia. Ele está há mais de 28 anos encarcerado, no corredor da morte. Mumia é um jornalista premiado, autor de seis livros, cujo respeitadíssimo comentário social é transmitido atualmente por várias estações de rádio dos Estados Unidos. Seus artigos também são reproduzidos em inúmeras mídias alternativas mundo afora. Em 1981, como comentarista de rádio e Presidente da Associação de Jornalistas Negros da Filadélfia, ele era um dos principais críticos do Departamento de Polícia da Filadélfia. Posteriormente, muitos dos policiais denunciados por Mumia nessa época foram indiciados e condenados por corrupção, intimidação de testemunhas e forjamento de provas. Ele acabou transformando-se num símbolo internacional na luta contra o sistema bárbaro e racista de pena de morte.

agência de notícias anarquistas-ana
É muito silêncio
enquanto as flores não crescem
e os poetas dormem.

Eolo Yberê Libera

Poder Nuclear: “é quase um milagre termos sobrevividos”, diz Chomsky

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Joinville sedia a "I Feira de Cultura Libertária" - ANA


Joinville sedia a "I Feira de Cultura Libertária"

[O Pró Coletivo Anarquista Organizado promove no próximo sábado, 1º de maio, na Associação dos Moradores de Itaum, em Joinville (SC), a "I Feira de Cultura Libertária". Confira abaixo a programação do evento, que contará com mesas de livros libertários, exposições, bate-papo, mostra de curtas e apresentações de poesias.]

Sábado, 1º de maio de 2010:

[15h]

Abertura com a feira de livros libertários e exposição sobre o “1ª de Maio, dia de luta”.

[16h]

“Relatos de existências das lutas sociais”

[17h ]

Exibições dos curtas:

• “Construção”: Maria Gutierrez – Brasil – 2006 – 8min30seg - Baseado na música homônima de Chico Buarque, retrata o cotidiano dos trabalhadores da construção civil.

• “Dekassegui”: Roberto Maxwell – Brasil – 2006 – 11min- Cotidiano de um brasileiro descendente de japoneses que partiu para trabalhar no Japão.

• “Leviatã”: Camilo Cavalcante – Brasil – 1999 – 21min - A morte de um nordestino em São Paulo.

[18h]

Recital de poesias com Edgar Schatazamann.

Local: Associação dos Moradores de Itaum, Rua Monsenhor Gersino, Nº 890. Entrada franca.

Movimentos sociais, entidades e grupos que já confirmaram presença: DCE - Diretório Central dos Estudantes – UNIVILLE; CALHEV - Centro Acadêmico Livre de História “Eunaldo Verdi”; GEPAF - Grupo de Estudos, Políticas e Ações Feministas; CMI - Centro de Mídia Independente; GEIPA - Grupo de Estudos das Idéias e Práticas Anarquistas; Livraria Libertária 36.

agência de notícias anarquistas-ana
para quem haicais?
para mim, para o que faz
para o menos mais

Bith

Bright Eyes: Vida e morte nos laboratórios - ANDA



Até quando a tortura ficará impune!

A violência imposta aos animais presos em laboratórios é algo tão bárbaro e cruel que muitos ficam enojados com tanta maldade!

Temos que colocar um fim nesta crueldade!

Provos Brasil

Fonte: http://www.anda.jor.br/

Entrevista com Job Fernando - Karta Bomba Zino - Por Zinismo

Entrevista com Job Fernando - Karta Bomba Zino - Por Zinismo

Katz, ou Fernando, ou ainda Job Fernando, publica atualmente os fanzines punks KARTA BOMBA ZINO e mais recentemente o KOLETIVA UMBELA BOMBA ZINO. A temática geral de seus Fanzines é o movimento punk e o seu universo, entrevista com bandas, resenhas de discos e de outros fanzines, análises da sociedade e do próprio movimento.

Os zines feitos por Katz merecem destaque e consideração especial por diversos fatores, todos eles resultantes do cuidado com que são feitos. A editoração segue uma linha clássica dos fanzines (sem ser poluída), complementada com os desenhos (geométricos) “desanimados” de Katz e inserções de outros elementos como colagens e toques de serigrafia.

Um destaque especial deve ser dado para a linguagem ou meta-linguagem dos fanzines. São vários os personagens que escrevem como o próprio Katz, ou ainda Zé da bota, ou Mamma Marmota ou Maria Botina, não é possível saber se realmente eles existem ou são heterônimos, mas o que importa é que ajudam o fanzine a ter um tom leve, irônico e poético, mesmo quando os assuntos tratados são sérios, e esse é o ponto mais forte destes fanzines. O KOLETIVA UMBELA BOMBA ZINO, por exemplo, é resultado de uma greve dos produtores do KARTA BOMBA ZINO que estavam de certo modo decepcionados com a falta de interesse do meio “underground” com os fanzines.

O ZINISMO recomenda estes trabalhos e mais, entrevistou Katz, ou Job Fernando, ou enfim, o homem (ou os homens) por trás destes fanzines, confira!

ZINISMO: Fernando, como se deu seu envolvimento com o Fanzine e a cultura punk?
FERNANDO: Conheci o Punk em algum dia de março de 1997. Depois de ouvir alguns comentários, com apenas quatorze anos eu me aventurei até o Centro de São Paulo em busca de algo nesse sentido e logo coloquei às mãos na coletânea ''Grito Suburbano''. Foi amor ao ódio a primeira vista e audição! Daí eu conheci também os zines e passei a escrever para tudo quanto era endereço em busca de mais... Não mais parei.

Eu sempre tive vontade de editar meu próprio zine e finalmente consegui quando lancei a Força Mecânica (informativo sobre Streetpunk, Ska e futebol), em março de 2004. Já em abril de 2007, tive uma nova experiência com o Turbo Zino (zine com uma entrevista e algumas matérias sobre Punk e Faça Você Mesmo que estavam arquivadas há algum tempo). E, mesmo ambos não tendo passado da primeira e única edição, isso foi muito importante para o meu aprendizado.

Em setembro de 2008 eu passei a editar a Karta Bomba Zino (zine musical, político e um tanto pessoal) e estou feliz por ter alcançado à quinta edição (até o momento) de forma mais madura. Já com o início da Greve da Bomba, no final do ano passado eu passei a me dedicar também à produção da Koletiva Umbela Bomba Zino (zine pessoal, político, musical, crítico, fictício, documental, ou algo assim - risos) e daqui alguns dias esta receberá sua segunda edição. Aguardem as novidades!

Nos seus fanzines têm várias reflexões pertinentes sobre o movimento punk. Gostaria que falasse um pouco de como vê esta cena nos dias de hoje e como visualiza o futuro do punk no Brasil.
Vejo as cenas punks de atualmente com desconfiança e um certo pesar. Embora existam inúmeras pessoas procurando construir cenas interessantes, na minha opinião hoje falta a chama de outras épocas e persiste a ignorância. Alguém já disse que hoje temos a geração do visual e do digital e eu acrescento que ainda temos os intolerantes de sempre. Diante desta realidade, sou pessimista em relação ao futuro.

Seus fanzines tem um cuidado especial na produção, linguagem, capas, editoração etc. Gostaria que falasse um pouco disso e também do lugar dos fanzines em meio aos diversos meios de comunicação existentes.
Eu fico feliz em saber que você reparou nestes detalhes. Procuro levar estes pontos ao limite nas coisas que faço (essa obsessão talvez se deva ao meu signo: virgem – risos) e na Karta Bomba Zino e na Koletiva Umbela Bomba Zino isso também ocorre de forma acentuada. Devagar, felizmente tenho conseguido evoluir um pouco nesse sentido. Enquanto busco um estilo na escrita, algumas características imagéticas se tornaram o destaque destas publicações e então eu passei a dar ainda mais atenção a estas possibilidades: cores das capas, envelopes, utilização de serigrafia, Desenhos Desanimados (geométricos), etc...

Penso que hoje os zines ocupam uma posição de resistência cultural diante de outros meios de comunicação. Como você diz, com a facilidade de se publicar coisas na internet, a publicação de um fanzine é um ato político. E digo ainda que a possibilidade de reinvenção é uma das principais armas que os zines dispõem para continuarem existindo.

Em um dos seus últimos zines (Koletiva Umbela Bomba Zino), há um desafabo com relação à falta de consideração de algumas partes do underground pelos fanzines. Fale um pouco à respeito.
Pois é... Apesar de todo o esforço na divulgação, posso contar nos dedos duma só mão quantas pessoas realmente tem demonstrado interesse pelos materiais que venho produzindo. Para se ter idéia, desde o lançamento do primeiro número da Karta Bomba Zino, eu venho obtendo retorno apenas de pessoas que possuem relações estreitas com o meio zineiro (editores e veteranos de épocas em que as publicações impressas ocupavam lugar relevante no underground). Uma pena!

Por conta disso, a própria Karta Bomba pediu pelo início duma greve. Paramos às prensas! Agora, vamos decidir como será daqui para frente...

Converso com outros zineiros e digo que esta é a realidade dos tempos atuais, mas não acredito que esta desvalorização das publicações impressas tem como causa direta a acessibilidade dos meios digitais, pois vejo que grande parte das pessoas envolvidas com o underground vem tratando também a internet de forma superficial. Parece-me que a circulação de informações, a comunicação e a própria relação entre pessoas estão banalizadas e a forma como às conhecíamos não mais ocorre por meio algum. Vamos ver no que esse processo vai dar...

Pra terminar, gostaria que o Karta Bomba fizesse algumas sugestões (musicais, zinísticas etc etc) para os leitores do Zinismo...
Bandas que estão em atividade: Invasores de Cérebros, Excomungados, DZK, Restos de Nada, Ação Direta, Armagedom, Cólera, Besthöven, Repúdio CxGx, DxDxOx, Agrotóxico, Sarjeta, Discarga Violenta, etc...

Publicações que estão em circulação: Aviso Final (avisofinal@gmail.com), Baskulho (histeria_zine@yahoo.com.br), Nuvem Negra (nuvem.negra.zine@gmail.com), FanzinEx (excomungados@ig.com.br), Histérica (histerrrica@hotmail.com), Alogia (tamaracosta@rocketmail.com), Revolta Vermelha (newrmmcf@gmail.com), Manufatura (contatos com o entrevistador), Subsolo – Ruas do ABC (melimdaniel@yahoo.com.br), Spell Work (tinacurtis11@yahoo.com.br), Misantrópico (expozinesba@yahoo.com.br), e Fuzz Zine (brunasizilio@gmail.com).

Blogs que estão no ar: Provos Brasil, Velha Escola x Nova Escola , Alternar , Cabeça Tédio , Zinismo (!), Fanzinoteca Mutação , Crop nº1 (http://cropn1.blogspot.com/), Haverá Som de Fita , e Hardcore 90.

Espaço aberto para o Karta Bomba:
Muitíssimo obrigado por sua amizade! E muitíssimo obrigado pelo espaço que você está nos oferecendo! Para encerrar, faço minha às palavras do Zinismo: Andarilhos do Underground: ZINAI-VOS!

Fonte: http://zinismo.blogspot.com

Banksy em África


Quem é Banksy? Uns sugerem que é um artista misterioso; outros defendem ser um colectivo que se dedica à street-art. O que é certo é que a criatividade e o traço de Banksy são inconfundíveis, assim como os locais improváveis que escolhe e a sua maneira de desafiar tudo e todos. Desta vez algures no Mali, alguém identificou diversos graffitis que parecem corresponder ao estilo a que já nos habituou.

A poética e a ironia destes desenhos é grande. Percebe-se que não são meros graffitis feitos ao acaso mas sim desenhos com um significado. Veja-se o da zebra com as riscas pretas a secar ao sol numa região em que a falta de água é gritante... ou ainda o da criança tomando banho dentro de uma bacia para onde jorra água de um buraco na parede. Não apenas street-art mas também world-art.



Fonte: http://obviousmag.org/

Sobre mídia, política e eleições - Por Marcelo Salles


Sobre mídia, política e eleições
Por Marcelo Salles, 26.04.2010

Esse texto é uma espécie de continuação do anterior, intitulado “A campanha Globo-Serra”, peça publicitária levada ao ar pela emissora que, a pretexto de comemorar seus 45 anos de vida, mergulha definitivamente na campanha demo-tucana.

O eleitorado brasileiro é conservador. Ninguém de esquerda ganha eleição para presidente sem uma boa parcela do voto mais à direita, seja no campo dos hábitos e costumes, da economia ou da área social. Em 1989, os dois candidatos mais identificados com o campo progressista, Lula e Brizola, receberam 32% dos votos. Em 1994, quando FHC vence no primeiro turno, Lula e Brizola, de novo os dois mais identificados com o voto progressista, receberam 30%.

Em 1998, pela primeira vez os candidatos identificados com o voto progressista vão além de Lula e Brizola. A esses somamos Ciro Gomes e José Maria e o total alcança 42%

Em 2002, Brizola sai do cenário eleitoral pela primeira vez. Lula permanece, mas já com o discurso “paz e amor” e a carta aos brasileiros. Ou seja, abre mão de boa parte do discurso de esquerda, faz a barba e compra um terno mais bem cortado. Lula (46,44%), Ciro, José Maria e Rui Pimenta recebem, juntos, 59% dos votos.

Em 2006, são quatro os candidatos de esquerda e do campo progressista: Lula, Heloísa Helena, Cristovam Buarque e Rui Pimenta. No total, recebem 58% dos votos, sendo 48,61% para Lula.

A questão que se impõe é a seguinte: num país em que apenas 26% da população entendem o que lê (segundo o Instituto Paulo Montenegro, citado por Venício Lima no livro “Mídia: crise política e poder no Brasil”) e a radiodifusão está do jeito que está, quantos são capazes de compreender o debate sobre o socialismo, a violência inerente ao sistema capitalista, o papel do Estado na vida das pessoas, a centralidade da educação e dos meios de comunicação no desenvolvimento, a importância de uma política externa soberana? Porque sem entender isso, restam as declarações de que a vida vai melhorar se o fulano de tal for eleito. E até aí o discurso é o mesmo em todas as matizes ideológicas.

Claro que o processo histórico brasileiro é determinante para essa formação conservadora. Mas não explica tudo. O cerne da questão está na ditadura de 1964, que interrompeu a reconstrução do país, impediu a reforma agrária e a distribuição de renda, desestruturou a educação e criou um sistema de comunicação sob medida para reproduzir a violência contra o povo que se arrasta desde a escravidão. As Forças Armadas deram conta de fazer o trabalho sujo e as polícias militares, hoje, seguem à frente da repressão.

A mídia é, hoje, a instituição com maior poder de produzir e reproduzir subjetividades. Ou seja, a mídia é essencial para determinar formas de sentir, pensar, agir e viver tanto de indivíduos quanto de instituições. No caso brasileiro, temos apenas sete emissoras de televisão para uma população de 190 milhões de habitantes. Dessas sete, seis são comerciais e estão a serviço do lucro a qualquer preço, da exploração do nosso povo e do assalto às riquezas nacionais.

Neste quadro, a direta nada de braçada. Tem a seu favor toda a subjetividade que precisa para suas vitórias eleitorais. O processo histórico é de repressão, violência, medo. As corporações de mídia tratam de legitimar esse processo. De modo que coisas básicas nem são discutidas, como: por que existe polícia militar, se temos um governo civil? Por que em outros países já não existe polícia militar e aqui seguimos convivendo com isso?

Recentemente o governo federal anunciou o terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos, que foi muito atacado pelas corporações de mídia. O programa contém propostas nas mais diversas áreas da sociedade, como na economia, cultura, educação, religião, direito das mulheres, igualdade racial, direito ao trabalho, à moradia, à terra, à alimentação, entre outros. Eu digo, sem sombra de dúvida, que o mais importante deles é o direito à informação. Porque sem o direito à informação, o cidadão não vai nem ficar sabendo que tem todos esses direitos. E sem saber que tem, como vai exercê-los? Como vai exigi-los?

É por isso que as transformações devem se iniciar pelos meios de comunicação. Devemos substituir o atual modelo baseado em autoritarismo, egoísmo, individualismo, racismo, preconceito, consumismo e medo. Essas características estão imersas em toda a programação das emissoras comerciais.

Para tanto, muito pode ser feito. Em primeiro lugar, as forças progressistas devem entender a centralidade desse processo – o que hoje em dia está muito longe de acontecer, com excelentes quadros políticos achando que disputar a mídia é apenas lutar por espaço nos veículos da direita. Os partidos políticos precisam mapear e fiscalizar a distribuição das verbas públicas de prefeituras, governos estaduais e dos vários setores do governo federal. Leis que favoreçam a imprensa alternativa devem ser criadas, como já acontece em outros países. Os movimentos sociais devem erguer a bandeira da democratização da mídia à mesma altura das suas bandeiras originais. Os sindicatos combativos devem lutar pelos direitos das categorias que representam e, além disso, devem organizar os trabalhadores para a batalha das comunicações. Os estudantes devem conscientizar seus pares. Os intelectuais devem denunciar as manipulações e distorções da mídia.

Todos, juntos, devem recomendar o voto nos candidatos que se comprometam com a substituição do atual modelo de comunicação. Paralelamente, devem organizar seus próprios veículos de comunicação. E periodicamente devem, unidos, tomar as ruas até que o atual modelo de comunicação seja derrotado. Esse é o melhor atalho rumo à consolidação da democracia.

Fonte: http://www.fazendomedia.com/

Escândalo da Goldman Sachs mostra jogatina financeira - Por Carlos Drummond


Escândalo da Goldman Sachs mostra jogatina financeira
Carlos Drummond De Campinas (SP)

Está provado e publicado nas mídias digitais e não digitais que o maior banco de investimento do mundo, o Goldman Sachs, atraiu cidadãos para uma armadilha na véspera do estouro da bolha imobiliária americana em 2008, inflada por uma plêiade de instituições respeitáveis e outras nem tanto. A sucessão interminável de episódios vergonhosos inscritos na crônica da crise das hipotecas subprime mostra não se tratar de uma exceção este caso do Goldman Sachs, escancarado há uma semana pela Securities and Exchange Comission, órgão do governo americano que fiscaliza o mercado de capitais.

A repetição do roubo tosco e do roubo refinado, em grandes proporções, nas crises do capitalismo protagonizadas por bancos, fundos de investimento, corretoras, seguradoras, avaliadoras de risco e auditorias aponta para uma outra questão: é possível imaginar o sistema financeiro atual sem jogatina e sem trapaça?

Não, não é possível, já disse o banqueiro Ernest Cassel, gestor da fortuna do rei Eduardo VII, rei da Grã-Bretanha e da Irlanda entre o final do século 19 e o início do século 20. Homem culto e conhecedor profundo dos meandros da economia e das finanças, Cassel afirmou não haver fronteiras entre atividade financeira e jogatina.

A diferença é somente de escala, como fica claro nessa sua afirmação com tom de depoimento histórico: "Quando eu era jo¬vem, diziam que eu era um jogador. Quando a escala das minhas operações aumentou, tornei-me conhecido como especulador. Hoje sou chamado de banqueiro. Mas eu tenho feito a mesma coisa o tempo todo!".

Especulação elevada caracteriza 40 crises financeiras de proporções consideráveis ocorridas nos últimos 50 anos, constataram quatro pesquisadores em um estudo sobre características recorrentes nos colapsos econômico financeiros. Em 1923, um operador da bolsa de Nova York disse: "em parte nenhuma a história se compraz em repetições com tanta freqüência e uniformidade quanto em Wall Street. Quando lemos relatos contemporâneos sobre surtos altistas ou pânicos, o que mais nos impressiona é que a especulação ou os especuladores do mercado acionário de hoje diferem pouquíssimo dos de ontem. O jogo não muda, como também não muda a natureza humana".

O problema tem impacto sísmico no contexto contemporâneo, de poder e abrangência hiperdimensionadas do sistema e da lógica financeira sobre todas as esferas de vida. Esse poder e essa abrangência ficam claros quando se examina o avanço do segmento sobre as demais atividades econômicas. No período que antecedeu a crise das hipotecas subprime, os lucros do segmento financeiro dobraram em relação ao final da década de 1980 e representaram trinta por cento do total obtido pelo conjunto das empresas americanas, como lembrou há uma semana o economista Paul Krugman.

O sistema justificava a sua hipertrofia e o gigantismo dos lucros dizendo que cumpria um papel de equilíbrio econômico e social ao distribuir recursos com eficiência para usos produtivos, diluir riscos, ampliar a estabilidade e perenizá-la através da inovação constante. O que se viu, lembra Krugman em coro com legiões de economistas tornados mais lúcidos e mais críticos a partir da débâcle, foi o sistema financeiro canalizar recursos para empresas não inovadoras nem geradoras de emprego, aumentar a instabilidade econômica e social, concentrar o risco e multiplicá-lo com o emprego de inovações que eram puro "lixo tóxico".

O dia-a-dia do sistema financeiro americano e europeu, principalmente, passou a girar em torno da lógica de apostas cada vez mais altas com dinheiro alheio, até a banca quebrar. Nada de novo a banca financeira mostrar-se banca de jogo, diria Ernest Cassel, fosse ele contemporâneo da segunda maior crise da história do capitalismo.

No episódio do Goldman Sachs ocorrido no ápice da bolha imobiliária, sobrava cinismo ou excesso de confiança. Em e-mails revelados no final da semana pelo Congresso americano, executivos do banco comemoraram os ganhos de um bilhão de dólares com a atração de investidores para apostas na continuidade do ciclo de ganhos do mercado enquanto a própria instituição colocava dinheiro grosso em operações que presumiam a hipótese contrária, isto é, de estouro da bolha.

Em janeiro deste ano Lloyd Craig Blankfein, presidente da Goldman Sachs, prestou depoimento sobre o mesmo escândalo na Financial Crisis Inquiry Commission, comissão bipartidária criada pelo presidente Barak Obama para investigar as causas da crise das hipotecas subprime. Interpelado pelo senador Phil Angelides, presidente da FCIC, Blankfein alegou que a Goldman "é apenas um participante de mercado e pode ser uma vencedora ou uma perdedora após cada operação".

Para Angelides, as ações de Blankfein no mercado de hipotecas são comparáveis a vender um automóvel sem freios e então comprar uma apólice de seguro do veículo. A lista de episódios de falta de lisura do Goldman Sachs é longa e inclui um episódio recente. Ao lado de outros bancos, ajudou o governo da Grécia a mascarar a verdadeira extensão do seu déficit, com o uso de derivativos, para contornar os limites de déficit aceitos para países integrantes da União Europeia. Os gestores da dívida da Grécia fecharam negócio com o Goldman Sachs em 2002.

A operação envolveu os chamados cross-currency swaps, nos quais a dívida do governo emitida em dólares e yens é trocada por uma dívida em euros para ser reconvertida nas moedas originais depois de um certo prazo. Diversos países europeus obtém normalmente fundos de investidores ao redor do mundo com esse tipo de operação. Mas no caso da Grécia, observou a revista alemã Der Spiegel, o Goldman Sachs e outros bancos americanos inventaram um tipo especial de swap com "taxas de câmbio ficcionais".

A inovação possibilitou que a Grécia recebesse "uma soma muito mais alta do que o valor efetivo no euromercado, de dez bilhões de dólares ou yens". Por meio desse expediente, o Goldman Sachs conseguiu secretamente um crédito adicional superior a um bilhão de dólares para a Grécia. Esse crédito, disfarçado como swap, não aparece nas estatísticas de endividamento do país.

As regras de Maastricht, definidas pelos países da União Européia, puderam ser tranquilamente contornadas dentro da lei através desse tipo de swap. Este tipo de operação, considerado uma inovação brilhante pelos donos de Wall Street, nada tem de novo, no entanto, no seu princípio de trapaça denunciado de forma tão clara pelo banqueiro Cassel.

Carlos Drummond é jornalista. (Fale com Carlos Drummond: carlos_drummond@terra.com.br)
Fonte: http://terramagazine.terra.com.br